rua de sentido único

notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

24.1.16

um homem que dorme um homem morto

28.6.15

The Emancipation Proclamation



Saul BellowSeize The Day (New York. The Viking Press. 1956)

25.6.15

The elderly ladies



Saul Bellow, Seize The Day (New York. The Viking Press. 1956)

23.2.15

Gael (1993)



Bernard Frieze. No CAM (Gulbenkian), até 31 de Maio.

20.11.14

"Les films avancent comme des trains, tu comprends ? Comme des trains dans la nuit."



« Ne fais pas l'idiot Alphonse, tu es un très bon acteur. Le travail marche bien. Je sais, il y a la vie privée, mais la vie privée, elle est boiteuse pour tout le monde. Les films sont plus harmonieux que la vie Alphonse, il n'y a pas d'embouteillage dans les films, il n'y a pas de temps mort. Les films avancent comme des trains, tu comprends ? Comme des trains dans la nuit. Les gens comme toi, comme moi, tu le sais bien, on est faits pour être heureux dans le travail, dans notre travail de cinéma. Salut Alphonse, je compte sur toi. »

La Nuit américaine (1973), François Truffaut
[in Télérama]

19.11.14




Filme de Cecilia Mangini, com argumento original de Pier Paolo Pasolini.

19.1.14

un prophète

Audiard - "(...) a possibilidade de mudar de vida. Os velhos representam a velha vida, as imagens da vida de que queremos fugir. A personagem nova deste filme é "um profeta", neste sentido: é anunciador de um novo protótipo de inteligência."
Um épico que começa como filme de prisão e se transfigura; no final é outra coisa. Filme em que se sente a passagem do tempo, a sua envolvência, o seu volume/corpo/espessura, mas que não pesa.

eternidades

A vida é uma eternidade, por muito que seja bonito fingir o contrário. Chega e sobra para o que queremos fazer. A oportunidade de existir é-nos oferecida. O resto é merda ou ouro. Sabemos que estamos cá para cá estar. E que não haverá segunda oportunidade. O luxo é saber que podemos enganar-nos. É saber que podemos perder tempo. O tempo é o luxo que a nossa vida não só desrespeita como desmerece.

Miguel Esteves Cardoso, "O que sabemos", in Público, 2014-01-17, na coluna Ainda ontem

"I write about violence as naturally as Jane Austen wrote about manners."

I write about violence as naturally as Jane Austen wrote about manners. Violence shapes and obsesses our society, and if we do not stop being violent we have no future. People who do not want writers to write about violence want to stop them writing about us and our time. It would be immoral not to write about violence.
*
Many animals are able to be violent, but in non-human species the violence is finally controlled so that it does not threaten the species' existence. Then why is the existence of our species threatened by its violence?
I must begin with an important distinction


Edward Bond, "Author's Preface" to Lear (1972; London: Methuen, 1989, pp. v-ix)

21.11.13

teatrinho de cartão

ASSUMPTA — (...) Queres mais uísque?
RAPARIGA — Não.
ASSUMPTA — Eu sim. Quando me entusiasmo, tenho de beber. Enfim, sou assim! Então vamos lá à Ribera, o que é que queres saber afinal?
RAPARIGA — Dizem que... dizem que, de qualquer forma, a influência dela foi importante para vocês...
ASSUMPTA — Quem é que disse isso?
RAPARIGA (apanhada em falso) — Não sei ouvi dizer.
ASSUMPTA — Para começar: a Ribera era lésbica.
RAPARIGA — Como?
ASSUMPTA — Tudo bem, tenho o maior respeito pelas lésbicas. Às vezes são melhor companhia do que um homem. Quero dizer, a mim nunca me tocaram. Eu sou muito con-ven-ci-o-nal.
RAPARIGA (incrédula) — Era lésbica, a sério?
ASSUMPTA — A Ribera? Porra! O único homem que meteu na cama foi o irmão!
RAPARIGA — O quê? O que é que está a dizer? Que irmão?
ASSUMPTA — Qual é que havia de ser!  Só tinha um! O irmão dela, o grande actor Enric Ribera! Formavam uma dupla magnífica. No palco entendiam-se maravilhosamente. E na cama parece que também!

Josep M. Benet i Jornet, op. cit., pp. 117

20.11.13

dobragens

MARIA — (...) pensava ser actriz. Pensávamos as quatro. Nós três... e ela. Mas o Verão acabou e eu fui parar às dobragens. E por lá fiquei. Dou a minha voz a uma actriz de verdade, mudo a língua dela pela minha, procuro fazê-lo bem.  Já sei o que estão a pensar. Uma tarefa baixa, uma tarefa quase indigna. Pelo menos indigna de vocês- Um trabalho, aliás, bem efémero. Há cem anos as dobragens não existiam. E daqui a cem anos, penso eu, não quero ser profeta, também não hão-de existir. Haverá outra maneira, sei lá qual. Nessa altura, alguém vai encontrar a palavra "dobragem" numsítio qualquer, mas não vai perceber. Terá acabado. Pode ser que aconteça assim. Oh, que pena! Não vos dá pena? Lamento muito, mas sou o vosso espelho. Podem zangar-se, podem discutir qual das duas teve mais noites triunfais, mas  tudo passará, vocês e a vossa memória, assim como a memória das grandes ou pequenas obras que tenham representado. Porque é que não sossegam? Vamos lá, deixem correr o tempo e até Sahkespeare desaparecerá. Shakespeare? É um questão de tempo. (Pausa.) Não há futuro. Nada é imortal. E vocês no fundo supõem o contrário. Não, lamento. Nada. Saber isto ajuda a levar a vida com uma certa serenidade e sem ressentimentos. Sem qualquer ressentimento por histórias antigas de tempos passados. (Pausa.) Bem, pode ser que fique sempre um pouco de ressentimento. (Pausa.) Mudando de assunto. Sabes o que se diz de ti, Glòria? Que és frígida. E sabes o que se diz de ti, Assumpra? Que passaste por cima de toda a gente que se cruzou no teu caminho. (Pausa.) Agora podem-se ir embora. Boa noite.

Josep M. Benet i Jornet, op. cit., pp. 99-100

19.11.13

graças ao teatro


GLÒRIA — Apesar da morte do Sean, que foi o homem que mais amei, já há outro a ocupar-lhe o lugar. A vida, temos de a saber dominar. Não hei-de morrer frustrada. Fiz amor com um pianista que me excitava e me punha em brasa enquanto interpretava Mozart. Tive uma breve e vergonhosa aventura com um desses desgraçados que se dedicam à luta-livre; deixava-me arrasada e entretanto chorava de felicidade por andar a comer uma senhora como eu. Durante uns tempos andei às voltas com um guarda-costas que me obrigava a camuflar.me das maneiras mais insólitas, só porque o meu namorado era ministro. E depois... Ou antes, houve um mocinho de dezassete anos, italiano, que era tal qual uma pintura da escola veneziana, que nunca se saciava e foi um doce discípulo amoroso. E já que estamos sozinhas, confesso-vos. Conheci uma lésbica adorável e pensei: porque não? Não esteve nada mal. Com ou sem sexo pleo meio relacionei-me com metade das pessoas interessantes que ao longo destes anos saíram nos suplementos culturais dos jornais. Tudo isto graças ao teatro. E ainda, e sobretudo, o teatro proporcionou-me noites de uma intensidade fluorescente, noites de bebedeira emocional total. Tantas... nem sei qual é que escolhia. Ou talvez sim... Quando fui Climnestra no Odeon romano de Herodes Ático, debaixo da Acrópole. A minha voz ressoava junto às pedras onde ressoaram pela primeira vez aquelas mesmas palavras do primeiro dramaturgo da história. Lembro-me de levantar o rosto para o céu, de olhar o firmamento estrelado enquanto recitava o meu texto, e sentir que os séculos se fundiam, que o tempo desaparecia. Por um instante consegui vencer o monstro. (Pausa. Muda, menos transcendente.) Nunca representei no Epidauto, mas não se pode pedir tudo. À minha maneira soube dominar a vida, não vos parece? (Pausa.) Tenho que ir fazer chichi. Venho já.
Pausa.
MARIA — A rapariga tem viajado.
ASSUMPTA — E tem fodido. (Pausa.)

Josep M. Benet i Jornet, E.R. (1994) [trad. Ângelo Ferreira de Sousa, in Desejo e outras peças, Livrinhos de Teatro (25), Lisboa: Artistas Unidos / Livros Cotovia, 2007, pp. 93-94]

14.10.13

pequena homenagem tardia















Um dia poderás chegar, tu que nunca chegas
porque não és um tu
ou porque chegas sempre em não chegares.

António Ramos Rosa, Acordes (1989)
@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


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