notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

22.12.10

o 'perdedor radical'

"O islamismo não está interessado em soluções para o dilema do mundo árabe; ele limita-se à negação. (...) Em última análise, desejam [os islamitas] que a maioria dos habitantes do planeta, composta por não crentes e infiéis, capitule ou seja morta.
Este desejo candente é irrealizável. É certo que a energia destruidora dos perdedores radicais chega para matar milhares, talvez dezenas de milhares de pessoas indiscriminadas, e de danificar duradouramente a civilização à qual declararam guerra.
Um indício do efeito que um par de dúzias de bombas humanas conseguem obter são os controlos quotidianos a que o mundo se habituou. Cerca de 1,7 mil milhões de passageiros aéreos têm de, ano após ano, deixar-se revistar, o que não só é incómodo mas também humilhante.
(...)
Isto é, sem dúvida, o menor dos prejuízos para a civilização que o terror causa. Ele pode produzir um clima geral de medo e despoletar contra-reacções de pânico. Ele faz crescer o poder e a influência da polícia política, dos serviços secretos, da indústria de armamento e dos prestadores de segurança privados, fomenta a votação de leis cada vez mais repressivas, envenena o clima político e conduz à perda de direitos e liberdades obtidos com lutas históricas.
(...)
O projecto dos perdedores radicais consiste em organizar, como actualmente no Iraque e Afeganistão, o suicídio de uma civilização inteira. Não é provável que consigam generalizar e eternizar ilimitadamente o seu culto da morte. Os seus atentados constituem permanente risco de fundo, como a quotidiana morte por acidente rodoviário, à qual nos habituámos. Com isso terá de viver uma sociedade mundial, que está dependente de combustíveis fósseis e que produz em permanência novos perdedores."

Hans Magnus Enzensberger, Os homens do terror, tradução de Miguel Cardoso, Lisboa: Sextante Editora, 2008, pp.109-114

13.12.10

8.12.10

Bloody Mama



Achtung! — volta a passar amanhã (5ª feira, dia 9) às 19:30 na Cinemateca.

recuerdos

'Ouvi Borges dizer que se recordava que uma tarde o pai lhe tinha dito algo muito triste sobre a memória, tinha-lhe dito: "Pensei que conseguiria recordar a minha infância quando cheguei a primeira vez a Buenos Aires, mas agora sei que não consigo, porque creio que se recordo algo, por exemplo, se hoje recordo algo desta manhã, obtenho uma imagem do que vi esta manhã. Mas se esta noite recordo algo desta manhã, o que então recordo não é a primeira imagem, mas sim a primeira imagem da memória. Assim, cada vez que recordo algo, não estou a recordar realmente, mas estou sim a recordar a última vez que o recordei, estou a recordar uma última recordação. Por isso, na realidade não tenho em absoluto recordações nem imagens sobre a minha infância, sobre a minha juventude."
Depois de evocar estas palavras do pai, Borges calou-se durante uns segundos que me pareceram eternos, e logo a seguir acrescentou: "Tento não pensar em coisas passadas porque, se o faço, sei que o estou a fazer sobre recordações, não sobre as primeiras imagens. E isso põe-me triste. Entristece-me pensar que talvez não tenhamos verdadeiras recordações da nossa juventude."'

Enrique Vila-Matas, Paris nunca se acaba (2003), tradução de Jorge Fallorca, Lisboa: Teorema, 2005, pp. 148-149

20.11.10

silêncio vivo

"[...] mas onde está hoje a floresta na qual o ser humano prove que pode viver livre, e não limitado pelos rígidos moldes da sociedade?
Sou obrigado a responder: em parte alguma. Se desejo viver livre, é por enquanto necessário que o faça no interior desses moldes. Sei que o mundo é mais forte do que eu. E para resistir ao seu poder só me tenho a mim. O que já não é pouco. Se o número não me esmagar, sou, também eu, um poder. E enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo, pois quem constrói prisões expressa-se sempre pior do que quem se bate pela liberdade. E no dia em que só o silêncio me restar como defesa, então será ilimitado, pois gume algum pode fender o silêncio vivo."

Stig Dagerman, A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer (p. 30-31)

19.11.10

nudez

"IV. Não é por mero acaso que é costume referir a miséria como 'nudez'. O que há de mais funesto na sua exibição — que, sob o imperativo da miséria, começou a tornar-se habitual e todavia mostra apenas um milonésimo do que está oculto — é o facto de aquilo que é despertado no observador, não ser a compaixão ou a imediata e tremenda consciência da própria imunidade, mas sim a sua vergonha. É impossível viver numa grande cidade alemã onde a fome força os mais miseráveis a viver das notas com que os que passam procuram cobrir a nudez que os fere."

Walter Benjamin, Einbahnstrasse (p. 50)

homem livre, homem condenado

"Só existe uma consolação verdadeiramente real: a que me diz que sou um homem livre, um indivíduo inviolável, ser soberano no interior dos seus limites.
Mas a liberdade começa na escravidão e a soberania na dependência. O sinal mais vivo da servidão é o medo de viver. O definitivo sinal da liberdade é o facto de o medo deixar espaço ao gozo tranquilo da independência.
Dir-se-á que preciso de ser dependente para conhecer o gozo de ser livre! É certamente verdade. À luz dos meus actos, percebo que toda a minha vida parece não ter tido por objectivo senão construir o seu próprio infortúnio: sempre me escravizou o que devia tornar-me livre."

Stig Dagerman, A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer (1955 - trad. Paula Castro e José Daniel Ribeiro, Lisboa: Fenda Edições, 2000, p. 22)

18.11.10

de "como o cinema era belo"



esta imagem nunca deixa de me perturbar profundamente

17.11.10

(profecia para o século XXI e mais além)

"Nos nossos dias, ninguém pode cristalizar[-se] naquilo que 'sabe fazer'. A força reside na improvisação. Todos os golpes decisivos serão desferidos com a mão esquerda."

Walter Benjamin, Einbahnstrasse (p. 42)

16.11.10

le hors-champ


City Girl (1930), F.W. Murnau

15.11.10

os melancólicos, ou do castigo das ovelhas (em 2011)


Melancolía (1899), Edvard Munch

"A necessidade de estar só — a par da amargura pela própria solidão — é uma característica dos melancólicos."

Susan Sontag
, "Sob o Signo de Saturno" (pref. a Rua de Sentido Único, ed. Rd'A, p. 24)


"O ano de 2011 entra num Sábado, dia consagrado a Saturno (do latim Saturnus), um planeta de movimento lento (...). O metal de Saturno é o chumbo, lento e pesado; a sua luz é cinza; é frio e seco, melancólico e térreo, masculino e diurno; é inimigo da natureza humana. (...) O Inverno será longo e frio com pouca chuva. A Primavera será ventosa. O Verão irá ser bastante húmido e o Outono prevê-se seco e fresco. (...) No reino animal, as ovelhas serão atingidas pela elevada mortandade."

Célia Cadete
, "Juízo do Ano", Borda d'Água Para 2011

"AUGIAS" — RESTAURANTE AUTOMÁTICO

Esta é a maior objecção à forma de vida do celibatário: ele toma as suas refeições sozinho. Comer só, facilmente provoca dureza e aspereza. Quem está habituado a isso, tem de viver de modo espartano, para não se degradar. Ainda que só por esta razão, os eremitas alimentam-se frugalmente. Porque só em comunidade se faz jus à comida; ela deve ser partida e repartida para fazer efeito. Sem olhar a quem: antigamente, um mendigo à mesa enriquecia qualquer refeição.

Walter Benjamin, Einbahnstrasse (/Rua de Sentido Único, 1928 - trad. Isabel de Almeida e Sousa, ed. Relógio D'Água, 1992, p. 93)



The Gold Rush (1925), Charlie Chaplin

as qualidades humanas também são necessárias na política, onde 'dignidade' é tabu, e 'parecer' a essência e mais profundo teorema

i.

ii.
"A energia e combatividade que tive ocasião de assinalar em Gabriela Canavilhas estão-se a tornar em arrogância e prepotência, e mesmo falta da dignidade e respeito que se exige a um responsável político, como no modo em que sacudiu a água do capote no tocante à DGArtes e á demissão do seu director, Jorge Barreto Xavier, ou no modo como se referiu a João Fiadeiro, coreógrafo e responsável por uma das mais bem sucedidas estruturas de base no sector coreográfico e na cultura em geral, o Atelier Real.
Insistir em que há sinais que “fazem diferença de orientação estratégica” neste governo, ousar dizer que “no meio de tanta dificuldade, se calhar podemos parar [parar?!] para rever mecanismos, estabelecer estratégias a longo prazo que possam ficar menos dependentes destas flutuações”, pode dizer alguma coisa da determinação e optimismos pessoais de Gabriela Canavilhas mas politicamente são puro autismo, uma quimera perigosa que não resiste minimamente à realidade dos factos." Augusto M. Seabra

1.11.10

queda

"O grande movimento do século XXI parece-me, é o da queda." Gonçalo M. Tavares

24.10.10

filmar a verdade (doclx 2)



"A autenticidade não é a verdade, é um dos factores da verdade. O que garante a verdade é a integração do realizador, a confiança que inspira às pessoas que desfilam diante da Câmara."

Joris Ivens, sobre Le 17ème Parallèle (1968)

nos dias em que havia tempo para escrever

"Escreveu-me ultimamente que em três dias tinha dado dezanove fodas! (...) Está muito bem, mas tenho medo que acabe desfeito em esperma."

Flaubert, sobre Maupassant, numa carta a Turgueniev (1877)

20.10.10

positions (dans "La Mort aux trousses")

— porque é que ele está sempre à esquerda d'Eva e ela à direita de Cary?

4. regrets

3. the bed

2. the cigarette



1. the shades



CLICK TO PLAY



19.10.10

ÀS RELIGIOSAS QUE EM UMA FESTIVIDADE, QUE CELEBRARAM, LANÇÁRAM A VOAR VÁRlOS PASSARINHOS

Meninas, pois é verdade,
não falando por brinquinhos,
que hoje aos vossos passarinhos
se concede liberdade:
fazei-me nisto a vontade
de um passarinho me dar,
e não devendo-o negar,
espero m'o concedais,
pois é dia em que deitais
passarinhos a voar.

Gregório de Matos (1636-1695)

27.9.10

evidências

"Stuart — Oliver seemed rather taken aback to hear from me. Well, I suppose that's not surprising. The person making the phone call is always thinking more about the recipient of the call than vice versa. There are people who ring up and say, 'Hi, it's me,' as if there was only one person in the world called me. Though, in a funny way, while this is a bit irritating, you usually do guess who's at the other end, so in a way there is only one Me."

Julian Barnes, Love, etc

24.9.10

no dia da minha morte

Pegar no fundamental tema "Angels", saido do génio de Albert Ayler. Desligar as luzes, fechar os olhos, encher o espaço de silêncio.

Depois. Comprar o vinyl e ouvir num sistema de som de qualidade.

23.9.10

generosidade

"One is rarely forgiven for being generous."

Julian Barnes, Love, etc

16.9.10

hedda (=queda)



Hedda Gabler, uma "vamp"
(como algumas que se m'atravessaram, sempre encantadoras, até na espatifórdia crueldade e egoísmo — enfim desencantadas). A mulher como figura dilacerante.

Em cena no Teatro São Luiz a partir de hoje, esta adaptação da peça de Henrik Ibsen por José Maria Vieira Mendes (existe já o "livrinho de teatro" Hedda - edição Cotovia/ Artistas Unidos) Como habitualmente nos Artistas Unidos, encenação de Jorge Silva Melo.
(Assim assim, destaca-se a performance da Maria João Luís).

9.9.10


Bright Star (2009, Jane Campion)


Bright star, would I were stedfast as thou art---
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors---
No---yet still stedfast, still unchangeable,
Pillowed upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever---or else swoon to death.

John Keats (1819)

5.9.10

closer to heaven

metafísica do amor


Gustave Courbet, la femme au perroquet (1866)

A plenitude dos seios exerce um fascínio considerável sobre os homens, pois relaciona-se directamente com a função geradora da mulher, proporcionando ao recém-nascido uma alimentação abundante.

Arthur Shopenhauer

2.9.10

decisions

The place of stillness that you have to go to write, but also to read seriously, is the point where you can actually make responsible decisions, where you can actually engage productively with otherwise scary and unmanageable world.

Jonathan Franzen (in Time, Aug. 23)

totalitarismo individual

[...]
Aqui há uns anos, quando a revista Time escolheu para personagem de um dos anos desta década o "eu" — este "eu" que, como autor, leitor e consumidor digital, adquiriu a omnipotência dos soberanos —, ninguém imaginaria que este "eu" se pudesse dedicar a medir e a registar tudo na sua vida mais prosaica: o sono, a produtividade, a disposição.
Não alinho em reaccionarismos antitecnológicos, mas não tardará muito que ele se transforme num monstro totalitário contra ele mesmo, competindo contra o que os seus registos lhe assinalam. Tudo visto, se já inventámos todas as formas de totalitarismo colectivo (político e religioso), não será plausível que ainda nos falte passar pelo totalitarismo individual dos que querem saber tudo, registar tudo, dos que querem renunciar à primeira liberdade do ser humano: a liberdade de esquecer, de não recordar, de não saber?
Também não tardará muito que alguém embarque numa nova experiência mais avançada do que a de [Noah] Kalina [ver Youtube]: filmar-se a si próprio cada minuto, cada dia desde a hora em que nasceu, só com o objectivo de ficar a perceber melhor o que lhe tiver corrido mal na vida. E então teremos a confirmação de que alguns de nós deixaram simplesmente de ser humanos.

Pedro Lomba (in Público de 2010-08-31)

1.9.10

Sem data

Já lá vão dias que não escrevo nada. A princípio foi um pouco de reumatismo no dedo, depois visitas, falta de matéria, enfim preguiça. Sacudo a preguiça.

Machado de Assis, Memorial de Aires (1908)

30.8.10

so far, so good

21.8.10

14.7.10

será hoje?



... aller, aller Sérgio Paulinho! (em 1º plano)

Há já vários anos que tenho a impressão de que o Verão só começa verdadeiramente com o Tour de France. É o acontecimento diferenciador que inaugura e marca uma nova atmosfera e forma de estardá-me para fantasiar e começar a fazer planos vários para o novo ano que começa sempre em Setembro (e nunca no forçado Janeiro). Entusiasmo-me com a perspectiva de um novo homem.

13.7.10

bom dia. finalmente não há sol

The only people we can still believe are normal are those we don't know very well.

The only people we can still believe are normal are those we don't know very well.

Alain de Botton


(por causa do Tour de France descobri o Twitter
ainda vou a tempo?)

24.6.10



The Unbelievable Truth (1989, Hal Hartley)

15.6.10

gratidão

At home Carole and I drank Jim Beam, and not much of it. But I was somebody else here, a sugar daddy from Singapore. Flowers and liquor — what else could I take Jane to clothe my gratitude? Sex paid for, however inadequately, was better — clearer, more naked, more of a rush — than married sex that we expect to sneak up on us for free.

John Updike, "New York Girl"

13.6.10

África do Sul 2010

Ce que j'espère c'est qu'il aura beaucoup de pénalty. C'est ça que j'aime bien.

JL Godard

amor

(...) trabalhando meticulosamente, os dedos longos e finos à frente dos seios de bicos duros, apertados na camisa de algodão, o rosto atento de menina — e me disse candidamente "essa coisa preta nas costas do camarão é merda". Foi nessa hora que eu descobri que amava Lilian também.

Rubem Fonseca, O Caso Morel (1973)

20.5.10

tacto

The first time he had slept with a woman not his wife, she had been a mutual friend, a shy and guilty woman who had undressed out of sight and come back to him wearing her slip over nothing; touched, her pussy beneath the nylon had been so startling soft he had exclaimed, 'Oh,' and she with him — 'Oh!' — as if together on a walk they had simultaneously sighted a rare flower, or a sun-splashed bed of moss.

John Updike, "Transaction" (The Women Who Got Away)

10.5.10

Yuja in red (e 2 filmes de 2004)


não era este o vestido, mas outro, vermelho.

A 'chinesinha engraçada' —o exótico em sub-texto— ouvi chamar antes de seu aparecimento, ao entrar no palco, imensamente sensual, composta de vermelho intenso, esguia, moldada pelo longo vestido, saída talvez de 2046 (2004) de Wong Kar-Wai — sonhos proibidos e incorrectos. Ouviram-se murmúrios, a excitação na sala — o desejo de lhe arrancar o piano ou o vestido:
"Aos 23 anos de idade, a pianista chinesa Yuja Wang combina a espontaneidade e imaginação da sua juventude com a disciplina e a precisão próprias da maturidade artística" [do programa do concerto]. Portanto, o novo e o velho num(a) só - um espanto.

Altamente energética levou atrás de si [2010-05-07, 19h] a Orquestra Gulbenkian, dirigida por Joana Carneiro, tocando o Concerto para Piano e Orquestra Nº2, em Sol maior, de Béla Bartók. Três vezes voltou ao palco, tocou uma peça aos saltos, e novamente voltou ao palco — o público, na sua maioria já passados os anos de potência, rejubilava. Da distância a que estava não lhe consegui ver a face, só os contornos ritmados.

Veio o intervalo, lá fora anoitecia, na Cinemateca preparava-se o projector para passar o belíssimo Ninguém Sabe (2004), de Hirokazu Kore-eda.

9.5.10

Ratzinger e o vazio

Com a vinda do Papa tudo parece possível: reinventar-me, superar todos os fracassos e tornar concretas imagens da imaginação.
Um dia e meio de folga é muito tempo livre.

26.4.10

o que é o musical?

(...) pour qu'il y ait film musical, dit-il [Rick Altman, La Comédie Musicalle hollywoodiene], il faut que par moments la relation son/ image s'inverse. Alors que dans une scène dialoguée, le son semble suivre l'image, dans la scène suivante, subitement ou graduellement, les movements des personnages, quand ils dansent, ou leur chant semblent se laisser engendrer par la musique. Le charme du genre et sa spécificité tiendraient, dit Altman, dans cette inversion provisoire des rôles, et dans l'art avec lequel un "fondu sonore" (audio dissolve), prenant souvent pour pivot un son de l'environnement des personnages, voire une phrase qu'ils prononcent quelques notes qu'ils fredonnent, amènent la musique à prendre temporairement les commandes.
(...)
Dans le cadre de cette définition altmanienne, les passages d'enchaînements de la parole au chant, et du movement "naturel" à la danse (et vice-versa), constituent des moments cruciaux, ansi que la démarcation entre le monde où l'on parle et bouge, et celui où l'on chante et/ ou l'on danse.
Ce "deuxième monde" n'est pas forcément une monde irréel (...).

- Michel Chion, La comédie musicale (Cahiers du cinéma, 2002
)



Mauvais Sang (1986), de Leos Carax (Denis Lavant, o actor)


Sauve qui peut (la vie) (1980), Jean-Luc Godard

20.4.10

A Virgem Maria

O OFICIAL do registro civil, o coletor de impostos, o mordomo da Santa Casa e o administrador do cemitério de São João Batista
Cavaram com enxadas
Com pás
Com as unhas
Com os dentes
Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia
Depois me botaram lá dentro
E puseram por cima
As Tábuas da Lei

Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova
Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria
Dizer que fazia sol lá fora
Dizer i n s i s t e n t e m e n t e
Que fazia sol lá fora

Manuel Bandeira, Libertinagem (1930)

16.4.10

reborn

A great rain came sweeping off the mountains, too strong to think into, leaving us with nothing to say. We stood in the covered entrance to the deck, we three, watching and listening, world awash. Jessie held herself tightly, each flung hand clutching the oposite shoulder. The air was sharp and charged and when the rain stopped, in minutes, we went back to the living room and talked about what we were talking about when the sky broke open.

Don DeLillo, Point Omega

10.4.10

um belo dia de sol

"Why don't you kids go play on the freeway?"

(The Fortune Cookie, 1966, Billy Wilder)

7.4.10

Shutter Island (notas imediatas com 2 meses de atraso)



Universo talvez um pouco estranho a Scorsese. Imagem saturada (algo irreal), banda sonora ameaçadora sempre presente - contrabaixos em grave sincopado.
Mahler, os fantasmas do nazismo - a erudição e o mal puro, a figura do intelectual estrangeiro (o outro) perverso [lembram-se de The Most Dangerous Game (1932)?].
Homens de chapéu de feltro e cigarros (alguns itinerários do film noir); o fracassado Cape Fear vem à memória. O sonho, labirinto, alucinação, pequena costela Lynch. Travellings, travellings - flash-backs. Citações!, citações? [com que intuito?]
O espectador sem pé, confundido até ao final último, pois o ponto de vista é o do protagonista (afectado, parcial) esquizofrénico - viver como um monstro ou morrer como um homem bom [dilema algo forçado].
No final, o que salvou o filme foi ter entrado com convite.

30.3.10

old movies


aqui, o inverso

[Jessie] I like old movies on television where a man lights a woman's cigarette. That's all they seemed to do in those old movies, the men and women. I'm normally so totally disregardless. But every time I see an old movie on television, I keep a sharp eye out for a man lightning a woman's cigarette.

Don DeLillo, Point Omega

26.3.10

watching (a) psycho in a summer dress

Anthony Perkins turns his head in five incremental movements rather than one continous motion. It was like bricks in a wall, clearly countable, not like the flight of an arrow or a bird.
[...]
Everybody was watching something. He was watching two men, they were watching the screen, Anthony Perkins at his peephole was watching Janet Leigh undress.
[...]
He was thinking a woman would enter who'd stay and watch for a time, finding her way to a place at the wall, an hour, half an hour, that was enough, half an hour, that was sufficient, a serious person, soft-spoken, wearing a pale summer dress.

Don DeLillo, Point Omega (2010)

20.3.10

Nunca viste o campo


Guilherme És como eu quiser. Disse que eras como um campo. Eras como um campo, aí sentada. Agora não. Passou. Não és como um campo, sentada aí, agora.
Rapariga Digo-te como é que sou. Sou como sou.
Guilherme Tens bom corpo.
Rapariga Tens com corpo.
Guilherme Bom corpo, agora. O melhor da terra.
Rapariga Isto é um campo? (Ele apalpa-a.) Diz-me. É um campo?
Guilherme Nunca viste o campo.

Facas nas Galinhas, de David Harrower


12.3.10

sábado (dia 13), às 15:30, na cinemateca portuguesa


Destry Rides Again (1939), de George Marshall, com Marlene Dietrich e James Stewart

Owen Pallett no MM ou apologia da não existência do outro enquanto mimetização de outros enquanto ajunta/ de identificação-partilha de devotismos

Chateia-me, ora sim ora não, o Teatro Maria Matos. A surpresa quando a há tem sido pela negativa. Agora o 2º dia do concerto de Owen Pallett em que estive presente mas que não presenciei. Porque não é difícil embirrar. E eu, chegando às 22h para um concerto vejo-me defronte o antagónico - inesperada 1ª parte de uma banda (portuguesa? mas a quem interessa a putativa nacionalidade) do género gothic doom. O problema aqui não é o género em si, mas o contraponto desse com a o 'indiepop barroco ou orquestral' (o que quiserem chamar, que seguir-lhe-ia) é que soa a insulto (não porque haja algo de sagrado ou melhor no segundo, mas porque simplesmente não há paciência para provocações ou inocências). Não se compra um bilhete para se esperar - a não ser que se esteja num festival ou numa casa de concertos rock nocturnos. Mas aqui estávamos no Maria Matos, a que se exige o mesmo Culturgest ou CCB, para referir os mais conhecidos. Assim, Owen Pallett só começaria pelas 23:15. Foi a essa hora que cheguei a casa, porque o dinheiro do bilhete não vale a indisposição da indignação, do esvaziamento. Porque não espero meia hora por uma peça de teatro, por um concerto de jazz, por uma merda dessas, sem que exija a devolução do bilhete. E saio a meio quando estou a ser estupidificado. Não tenho problemas com isso. Um bilhete é um contrato por vezes libertador.
No fim de contas fui eu que não fui ao site da casa para ver a actualização dos dados que dizia que no 2º dia havia 1ª parte - sou o ignorante, o idiota indignado, e faço estrilho disso.
Como adoro o ambiente borbulhante dos concertos rock e pop indie - uma massa homogénea (e repugnante) de juventude tardie que se chama de alternativa (por ser cool?) e que partilha de dress code entre outros códigos, tais como rapaz alto e magro de all-stars, ou magro e baixinho de óculos de massa, ou gordinho que estuda antropologia, ou que estuda belas artes, ou que estuda na Universidade Nova da Av. de Berna, ou que já deixou de estudas, e que também é rapariga de All-Stars e tal como o rapaz calças justas de ganga de cores para o escuro mas variadas consoante a estação, ou ténis pequeninos e rotos de paninho, ou Vans?, ou óculos de massa (2), ou a postura e o pair pressure - que mais?, nada de especial, é do mesmo, são grupos, com os seus códigos e símbolos e posturas/personalidade repetidas ao infinito - o pior é isso, o artificialismo, toda a construção de uma figura (os gestos, o manear da cabeça, o devotismo) que quando se junta a todas a outras fazem como que uma manada que pasta nas plateias alternativas nas cidadezinhas por esse mundo fora, com variações. Não é objectivo meu julgar ou enumerar preconceitos relativos a grupos/tribos/clãs(?) sociais. Em boa verdade não tenho objectivos. (apenas) Atiro pedras, como na infância, para passar o tempo e acertar a pontaria sempre desalinhada.
Sou apologista da independência, faz-me espécie os encarneiramentos. Vale cada vez menos a pena o esforço. Um CD, um bom sistema de som... de que serve a presença dos artistas se 80% das vezes não têm aura (não há adição ao registo gravado, a bem dizer, não há presença). Há dias assim, de tolerância zero. Outros há em que a surpresa é uma dádiva. Fica o desabafo da minha impaciência.

Ao menos houve Underworld U.S.A. (1961), do Samuel Fuller, às 19h (dia 11) na Cinemateca. Tudo melhora. Com a tela e defronte dela (pensamento em flash-back) pacifico-me. Benditos sejam os fantasmas, presenças revigorantes!

notas: o que começa por ser um ataque parcialmente injustificado ao MM, pois a 1ª parte deve ter sido escolha do artista principal, acaba em ataque a um público (que no fundo é aos públicos em geral); sinais de frustração e intolerância (passageiros?), não é mais do que uma queixa de si para si mesmo (mas também é mais que isso) - mantém-se o misantropismo: aqui não cedo, pois há vícios que aprendemos a cultivar.

8.3.10

alice

Depois de Alice in Wonderland (2010), de Tim Burton, apetecia uma sequela, podia ser já no próximo ano. O 3D como adição. A graciosidade encantadora de Alice (Mia Wasikowska).

4.3.10

MEC

Hoje, no Público (edição impressa), uma crónica antológica de Miguel Esteves Cardoso, "O ultraje" - a indignação perante a censura e destruição de cultura que agora se tornou sistemática, por razões meramente comerciais, pelo grupo LeYa. Só por isso já vale a pena comprar o jornal.

2.3.10

Estate Violenta


(Estate Violenta, 1959, de Zurlini)

"Em longos planos com um prodigioso movimento interno, com sucessivas entradas e saídas de campo dos actores, a câmara vai apertando o cerco em tomo do par, da mesma maneira que Trintignant vai encerrando Rossi-Drago no seu olhar. O que a câmara segue, no fundo, é o duelo de olhares que ali se trava, as perseguições e as fugas, numa sequência vertiginosa e verdadeiramente antológica."

(Luís Miguel Oliveira, "folhas da cinemateca" 1 de Março, 2010)





le feu follet (1963, de louis malle)

1.3.10

(...) sendo-me difícil, dolorosa mesmo, a indispensável depuração imposta pelo crescimento desordenado e quase daninho [das pilhas de livros], mas nunca claustrofóbico. Até serem exilados para estantes menos consultadas, cumprem um curioso movimento de rotação - vasos, livros comunicantes? -, sobrepondo-se e impondo-se reciprocamente, sobre a mesa que medeia entre o sofá e o nicho na estante onde trabalho.

Jorge Fallorca, a cicatriz do ar (2001, Black Sun Editores)

25.2.10

Trás-os-Montes (António Reis 1)

Um dos aspectos mais interessantes do filme de António Reis e Margarida Martins Cordeiro tem certamente a ver com as relações do espaço e do tempo. Estamos habituados a descobrir uma região deslocando-nos no seu espaço. Mas por vezes podemos tentar fazer a história dessa região - deslocando-nos no seu tempo. O que Trás-os-Montes [1976] realiza, com uma prodigiosa naturalidade, é uma deslocação no espaço que é simultaneamente uma deslocação no tempo. Por outras palavras, a geografia converte-se em memória: é toda uma imensa riqueza de símbolos, lendas, ritmos, que se vem inscrever - pastoralmente - sobre o corpo da terra. Há aqui, nestes caminhos que não levam a parte alguma, um sabor heideggeriano: o cinema transforma-se em pastor do ser, que é talvez a lição dos admiráveis planos iniciais do frágil pastorinho conduzindo os animais ao seu destino. O que mais nele nos comove é o seu antiquíssimo saber da voz, que lhe permite formular as palavras justas, e essa agudíssima inconsciência de dum destino que o atravessa, sem que ele o pressinta, para além da evidência primeira de todas as coisas.

Eduardo Prado Coelho, Vinte anos de cinema português - 1962-1982
(1983, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa)
[links: 1, 2, 3]

nota: passou no dia 17 de Fevereiro (22h) na Cinemateca juntamente com a surpreendente (e belíssima) estreia de António Reis, Jaime (1974).


(segmento de Trás-os-Montes com os "admiráveis planos iniciais do frágil pastorinho")

the don'ts of writing (get rid of all temptations)

1 Marry somebody you love and who thinks you being a writer's a good idea.

2 Don't have children.

3 Don't read your reviews.

4 Don't write reviews. (Your judgment's always tainted.)

5 Don't have arguments with your wife in the morning, or late at night.

6 Don't drink and write at the same time.

7 Don't write letters to the editor. (No one cares.)

8 Don't wish ill on your colleagues.

9 Try to think of others' good luck as encouragement to yourself.

10 Don't take any shit if you can ­possibly help it.

(Richard Ford)

22.2.10

a luz que se perde

A experiência tem-me demonstrado que a luz de um autor latino-americano, é substancialmente diferente da luz escrita por um anglo-saxónico, um europeu, e que é um equívoco pretender que é sempre a mesma para os escritores do anel mediterrânico. Existe uma tal variedade de nuances, de gradações, nessa luz supostamente revelada ou iluminada por um escritor grego, egípcio, magrebino ou andaluz, que tornaria ridículo circunscrever a luz às cores pateticamente enunciadas pelo arco-íris, as estações do ano, as horas do e a memória.

Jorge Fallorca, a cicatriz do ar (2001, Black Sun Editores)

(nota: embora prefira a da Black Sun [talvez na livraria a Trama ou Letra Livre, há uma nova edição, de autor [2009], deste livro híbrido, para quem já não encontrar a primeira, oficialmente esgotada)

16.2.10

redes 'sociais' - virtualização e controlo (/vigilância)

Agora que apareceu o Google Buzz (novo desgraçado icon no gmail), fala-se do confronto entre Google e Facebook. Não é a batalha entre os dois que me interessa. Mas o de saber até quando se pode resistir, mantendo-se afastado de ferramentas de clara invasão da privacidade, de incómodo acesso a dados e informações que não queremos saber, mas aonde mais cedo ou mais tarde acabamos por aceder - aqui esvai-se a ignorância (ou uma certa ingenuidade), essencial para alguma paz de espírito: não queremos saber o que andam os amigos, ex-namoradas, inimigos a fazer; podemos ter curiosidade, porém, em última análise, prefere-se não saber.
Estas ferramentas também não são mais do que um aumentar da virtualização das relações (des)'h'umanas. A existência baseia-se em dados (zeros e uns) num espaço sem existência física (que é o espaço futuro). Relações que rejeitando a voz já se haviam acomodado ao 'desresponsável' sms (e é verdade que é mais fácil, mais fácil, e uma ilusão de contacto). Estamos em permanente contacto com todos, pode-se ser passivo e não actualizar os perfis sociais tornando-se assim ainda mais explícita a posição de voyeur (uma declaração de intenções), categoria a que todos (de uma forma mais ou menos mascarada) pertencem. A exaltação do voyeurismo, do exibicionismo, da espionagem e do controlo (surveillance).
As redes sociais da internet são (perigosas) ferramentas de informação (<-- reveladora, que pode ser prejudicial para os próprios utilizadores). E aderimos todos, voluntariamente, a esse espaço (virtual) de controlo (Big Brother), de monitorização humana - de encontros, reencontros (e desencontros). Sim, prefiro o acaso de um reencontro, ao digitar de um nome dos tempos do liceu. Esse clique muito pouco tem de reencontro, e o desdobrar de uma vida interrompida/ desaparecida, por exemplo, aos 17 anos pode ser um choque, uma surpresa, uma ilusão (/truque) - pensando bem há algo de novela de folhetim nestas relações/ reuniões virtuais: todos os dias, todas as semanas novos capítulos de vidas 'reais'(?) [ou romantizadas] a que temos acesso. A virtualização é um processo de miscigenação do real e da ficção (<-- do imaginário, da possibilidade): podemos reinventar-nos, criar desvios à nossa realidade/ existência (as mentiras sempre existiram, seja no contacto humano ou virtual - este mais propicio à desresponsabilização), o que já acontecia com os 'chats' (tempos do IRC). Preocupa talvez o facto de estas redes sociais, como o Facebook, já não serem só ferramentas de comunicação, mas lugares de existência, uma existência paralela à real (corpo, com corpo, de corpo, digo). E até que ponto, num futuro não muito distante será 'obrigatório' pertencer, nelas estar inscrito, para se existir enquanto 'pessoa' (virtual). Podemos brincar pensando numa transferência cada vez maior da existência humana do espaço real para o virtual (e nisto lembramo-nos de Matrix - onde o virtual é mais real que o real e o real é um inferno que quase ninguém quer viver [uma generalização, claro]).
Quando serei obrigado, talvez por questões profissionais(? e que outras, agora estou algo esvaziado), a aderir à partilha de dados, de movimentos, do rastreio. O Facebook (e afins) pertence à era pré-chip, é um momento de transição: é a habituação a novos mecanismos de controlo que acabará na vigilância permanente (o ideal de um chip[gps] em cada ser humano, que recolhe todos os dados fisiológicos e quem sabe mentais). Não sou apologista de um discurso catastrófico. As civilizações adaptam-se e alteram-se, adaptam-se a novos tempos: as sociedades (as ferramentas da web 2.0) crescem e destroem-se também. Nem tudo é mau. Há sempre alguma resistência. Mas a virtualização das relações humanas é uma merda.
A virtualidade não é algo que eu busque. E nas redes sociais só se aumenta a distância entre corpos: são mais os nomes, o contacto, maiores os equívocos, maior a superficialidade, porque a virtualidade, por enquanto, é apenas superfície, uma forma sem corpo. É por isso que alguma dança contemporânea me comove: os corpos, vivos, com texto, afectos, pulsões, intenções (des)ocultando-se. Preferível ver um amigo do outro lado do Oceano uma vez a cada dois anos, do que seguir-lhe a vida (sorrateiramente). Sou a favor da ignorância, do exílio (isolamento) no real.

19.1.10

cinema 2009, a lista (uff) - doze razões

i. gran torino
ii. un prophète
iii. the wrestler
iv. inglorious basterds
v. la mujer sin cabeza
vi. vengeance
vii. el cant dels ocells
viii. la danse
ix. le streghe, femmes entre elles
x. two lovers
xi. la belle personne
xii. ponyo


Un Prophète, o épico de Audiard, só não foi o filme do ano porque houve Gran Torino. Mas foram ambos, arrisco-me a dizer, as duas obras-primas, as que valerá a pena voltar num futuro não-próximo. É curioso verificar que talvez sejam os filmes mais políticos da lista (apesar de nada terem de 'empenhados'). E terá sido um ano de cinema de heróis (à antiga)?

17.1.10

pausa

este blog vai de férias por uns dias, voltará nos últimos dias de Janeiro - que sejam os últimos de chuva.

(pausa)

16.1.10

filmes anormais vistos em 2009 (e etc)

2009 foi um ano atípico. Inércia, dificuldade em acompanhar o circuito de estreias cinematográficas e quase total ignorância quanto aos lançamentos de álbuns (lamentavelmente no campo do jazz. Aqui, fiquei-me por alguns concertos).

No cinema, destaco (e faltou-me ver muita coisa), dois filmes vindos dos EUA, Gran Torino (2009, Clint Eastwood) - a obra-prima -, e a surpresa, The Wrestler (2008), de Darren Aronofsky (cujas primeiras duas longas-metragens foram apenas exercícios de estilo); bem como um realizador que nunca deixa de me seduzir (não teve distribuição comercial em PT, penso que passou no IndieLisboa), Christophe Honoré, com La belle personne (2008) - cinema pop-musical fazendo pandam (extrema coerência temática, actores recorrentes, espaço social) com os anteriores dois filmes (Les chansons d'amour [2007] e Dans Paris [2006]), o que configura uma trilogia da jeunesse bourgeoise parisiense. Apontamento para a curiosa comédia de dois argumentistas estreantes na realização (seguindo os passos de Preston Sturges, o eterno pioneiro - ciclo dele actualmente na Cinemateca), I Love You Philip Morris (2009, de Glenn Ficarra e John Requa), em que a excepcional interpretação de Ewan McGregor é o ponto alto (sendo que não houve nenhuma comédia à altura da melhor de 2008, The Darjeeling Limited [2007] de Wes Anderson - o seu melhor filme). Two Lovers (2008), de James Gray. La mujer sin cabeza (2008) - lembrando o Deserto Vermelho de Antonioni e a sua protagonista -, de Lucrecia Martel, que não foi nenhuma desilusão, ao contrário de muito do que foi apontado, mas mais uma bela adição à sua filmografia. Gake no ue no Ponyo (2008, Miyazaki - o mestre do cinema d'animação), sendo a banda-sonora demasiado pomposa o único senão deste deslumbrante filme (talvez o seu melhor deste Monoke, 1997). Star Trek (2009) do produtor de Lost, JJ Abrams, foi o bright side dos filmes de acção (Avatar coloca-se a seguir); a par de Vengeance (2009), de Johnnie To grande realizador de Hong Kong, (juntamente com Wong Kar-Wai), um belo film noir, que será uma pena se nunca chegar a estrear em Portugal. Já me esquecia do unânime Inglorious Basterds (2009, Tarantino), que está aqui (e em todo o lado) com todo o mérito.

[filmes que ficaram por ver (por preguiça, desleixe, ausência física, e falta de tempo): The Limits of Control, Jim Jarmusch - um dos meu realizadores contemporâneos preferidos; Public Enemies (2009), de Mann, cujo anterior filme foi uma muito agradável surpresa; Singularidades de uma rapariga loura (2009, Oliveira), título apelativo (e deivertido) do Eça; 35 Shots of Rum (2009), de Claire Denis (que foi assistente de realização de Jarmusch, e percebe-se) e cujo Vendredi soir (2002), é uma maravilha de ritmo e sensibilidade/ sensualidade e sonho - belo (e simples); The Hurt Locker (2008) de Kathryn Bigelow; Milk (2009), do 'meu' predilecto Van Sant, e por essa razão ainda não sei porque não vi, tive várias oportunidades- negação do prazer, relutância?; Still walking/Andando (2008), de Hirokazu Koreeda; Les plages d'Agnès (2008), de Agnès Varda; e o último a estrear em 2009, Un prophète, (2009) de Jacques Audiard.]

Nota altamente negativa para o último Von Trier, Antichrist, entra no balanço negro do ano: é um tremendo erro, filme desastroso e desgraçado, já não é cinema, mas um programa de agressão contra o espectador, uma tortura deliberada, panfleto infantil (literalmente não existe argumento ou escrita), a violência sem propósito, exercício altamente desnecessário de esquizofrenia do realizador, que já fez coisas belíssimas, entre outras, as que mais abaixo indicamos; em princípio, chega a Portugal no final de Janeiro e não tem nada a dar. Provavelmente daqui a 11 meses entrará em algumas listas do ano (de 2010), sem dúvida exibicionistas e arrogantes, bem como sem nenhuma sensibilidade cinematográfica.

Porque estrangeirado perdi o IndieLisboa, restou-me o DocLisboa. Aí, com falta de tempo, armas apontadas a Jonas Mekas - no primeiro filme Lost, Lost, Lost, só se interessa com a memória; depois, a partir dos anos 50, passa a captar a realidade imediata, espontânea (de improviso), sem plano (nunca planeia o momento de filmar): manifestação de pulsões, desejos, imprevistos e sensibilidade -, destacando principalmente Reminisciencies of a Journey to Lithuania (1971-72) e Walden (1969). Também o último documentário do mestre Frederick Wiseman, La Danse (2009)

Na Cinemateca, no Forum des Images e por aí fora, a história do cinema: La Maman et la Putain (1973), a revelação cinematográfica, talvez o filme que mais me marcou em 2009, o preto e branco de Jean Eustache. Recentemente, um tesouro da comédia (a pôr ao lado do melhor Lubitsch), The Lady Eve (1941), de Preston Sturges. O musical sonhador(-fantasia) com Les Demoiselles de Rochefort (1967, Jacques Demy). O ascetismo e violência de Werner Herzog, com L'enigne de Kasper Hauser (1974) e o absoluto Woyzeck (1979), que depois da retrospectiva integral no Centre Georges Pompidou veio dar um saltinho ao IndieLisboa. No Musée d'Orsay, nunca mudo (e com acompanhamentos ao piano ou percursão), Blind Husbands (1919), estreia sublime de Stroheim, e Greed (1923) - eterna obra mutilada (o deserto, o deserto...). Morte a Venezia (1971, Visconti), pela persistência do 4º andamento da 5ª Sinfonia de Mahler - despontando auditivamente mesmo meio ano depois de ter visto o filme - que nunca mais se desligou do filme, e o livro que também perdeu a sua independência - Visconti apoderou-se de ambos. La ragazza con la valigia (1961, Zurlini). L'homme blessé (1982), de Patrice Chéreau, filme intenso e perturbador, que serve para quem quiser perceber donde poderá vir a primeira longa de João Pedro Rodrigues, O Fantasma (2000). Les rendez-vous d'Anna (1978), de Chantal Akerman, um filme algo auto-biográfico em que a solidão e a impossibilidade do amor são temas de fundo - filme de não-lugares, road-movie -, a personagem principal, Anna, é como um espectro. The Idiots (1998), filme que vai descambando até ao penoso final, e a única e genuína (e quase genial) comédia (pós-moderna) de Lars Von Trier, The Boss of It All (2006). Foi também o ano da confirmação de Luis Buñuel como uma das minhas mais altas referências pessoais (comédia, heresia, perversão, pulsões, desejo): El Bruto (1953), Los Olvidados (1950), Él (1953 - o mais genial dos que aqui se enunciam), Le Charme Discret de la Bourgeoisie (1972) - títulos excelentes vistos pela 1ª vez em 2009 (entre outros medianos). An Affair to Remember (1957), de Leo McCarey, um dos melhores melodramas do cinema. City Girl - our daily bread (1930), belíssississimo filme de Murnau, obra-prima absoluta. Love in the Afternoon (1957), genial comédia de Billy Wilder (e encantadora Audrey Hepburn). Al Mummia (1969), um filme único (em mais do que um sentido) de Shabi Abd As-As-Salam. Higanbana (1958), de Ozu. People Will Talk (1951) e The Ghost and Mrs Muir (1947), de Mankiewicz. 'Obras-mestras' de John Huston (muito para redescobrir) - Under the Volcano (1984), The Man who would be King (1975), Beat the Devil (1954) e Fat City (1972). Bitter Victory (1957), o deserto em tempo de guerra por Nicholas Ray. Autobiografia, infância tortuosa de Bill Douglas em My Childhood (1972). Maravilhoso fenomenal, El Espiritu de la Colmena (1973), de Victor Erice. Honkytonk Man (1982), lição de humanidade e depuração no cinema, por Clint Eastwood (um dos últimos sobrevivente agora que Rohmer partiu).

[ainda bem que não houve quem me obrigasse a ser demasiado selectivo - são os filmes que mais amei, mais me estimularam, desafiaram, surpreenderam: que me deixaram uma marca]

10 concertos: Andrew Bird no Pigalle (27 d'Abril); The World Saxophone Quartet Featuring Kidd Jordan (e James Carter!) na Salle des fetes de Montreuil (30 de Março) - uma parte da história recente do jazz em palco; Deerhunter no Nouveau Casino (30 de Maio); Maria Scheneider e a Brussels Jazz Orchestra no Parc Floral de Paris (6 de Maio); música experimental e improvisada, com raízes obscuras no jazz, Nuno Rebelo e Dj Olive, na Culturgest (18 Janeiro), dentro do imperdível ciclo "Isto é Jazz?" da responsabilidade de Pedro Costa (da Trem Azul/ Clean Feed). Os super-indie Deerhoof, que há quase 15 anos fazem do rock alternativo mais excitante que por aí anda, tive sorte de ver no Villette Sonique (31 de Maio), pois ainda estou para ver o dia em que vêm a Portugal. Evan Parker Quartet (com o muito talentoso Peter Evans), na Casa da Música (12 Setembro). António Pinho Vargas a solo (31 Outubro) e Gonzales (3 Novembro), na Culturgest - bem como o mítico concerto dos Musica Elettronica Viva (também no ciclo "Isto é Jazz?", a 2 de Dezembro) - música viva, mutante, improvisada. Quando se trata de ouvir ao vivo (e nunca 'ver'), o jazz e exercícios de improviso têm vindo a ganhar espaço nas minhas deslocações a concertos, perdendo os festivais e bandas pop-rock, no geral mais entediantes e irrelevantes ao vivo (salvo algumas excepções).
[Grande ausência: Jazz em Agosto, na Gulbenkian - é sempre numa data complicada]


Nota final: a nível pessoal e emocional, como se pode ver pelo anárquico e diletante balanço cinematográfico (e mais qualquer coisa), 2009 deixou a sensação de ser um ano de merda, cinzento, com muito blue, marcado pela ausência e fracasso pessoal (e que parece prolongar-se por 2010 afora)

13.1.10

escreve sempre, todos os dias?

"De forma alguma. Marguerite Yourcenar disse que o essencial não é a escrita, é a visão. Mas para merecermos a visão é preciso muito tempo. Os livros são feitos de tempo. Temos de ler, ver filmes, amar alguém ou alguma coisa, viajar, quem sabe encontrar as nossas personagens… e, acima de tudo, esperar. É preciso descer muito fundo para chegar ao lugar onde o livro se forma. Quando me sento para começar a escrever, o livro já está terminado mentalmente."

[entrevista a Ana Teresa Pereira no JL, nº988, 13-26 Agosto de 2008]


Em Novembro último saiu, pela Relógio d'Água, outro livro de Ana Teresa Pereira, O Fim de Lizzie e Outras Histórias, que reúne duas histórias já lançadas em O Fim de Lizzie (Bolso Independente, 2008) - "Numa Manhã Fria" e "O Fim de Lizzie" -, e ainda "O Sonho do Unicórnio" (inédito). No final do livro, o belíssimo posfácio do professor/ensaísta/poeta/cinéfilo Fernando Guerreiro (também editor da marginal Black Sun Editores), "O Mal das Flores" (título que alude a Fleurs du Mal, de Baudelaire).
Nós gostamos de fantasmas, duplos, espelhos, invisível, nevoeiro--

12.1.10

Eric Rohmer (1920-2010)



Hoje (ontem), na sala do Saldanha Residence, poucos minutos depois de Un Prophète começar (justo aí, no debut deste belíssimo filme de Audiard, que no final saindo para o Saldanha nocturno, frio, desolado, o McDonald's igual ao da Place de la République, fome tardia, nostalgia - um cheese e meia-hora de conversa animada com J., vêm-me muitas coisas, muitos filmes à cabeça, sinto-me flutuante), o meu amigo J. me disse, 'o Eric Rohmer morreu, morreu hoje.'

Não acreditei à primeira. Como podia não saber, não ter sabido.

O Eric Rohmer que conheço é este, de 80 e tal anos, de Les amours d'Astrée et de Céladon (2007), o meu filme preferido de 2008, o melhor filme desse ano (seguindo-se-lhe o Aleksandra [2007], de Sokurov). Por mais estranho que pareça foi o meu primeiro filme de Rohmer. Começei pelo fim. E tornou-se desde logo uma referência. Só mais tarde me dei conta que já tinha visto uma curta-metragem sua "Place de l'Étoile" (1965), do filme colectivo Paris vu par...

Rohmer foi o último dos principais realizadres da Nouvelle Vague francesa a que cheguei: primeiro Truffaut, depois Godard, o subversivo Chabrol, o deslumbramento musical com Demy, (que dirão não ser nouvelle vague), Resnais, Rivette (também tardio), e no fim aquele que passou a ser "o meu realizador da nouvelle vague", o mais secreto, subtil, essencial, o que acaba por me definir melhor (que mais diz sobre mim, sobre o que não digo), Eric Rohmer.

[ouço o último álbum de Benjamin Biolay, La superbe (2009)]

No espaço de um ano e meio seguiram-se em diferentes lugares - cinemas, cinemateca, dvds - Ma nuit chez Maud (e apaixonei-me definitivamente), La collectionneuse, Le genou de Claire, L'amour l'après midi (... 'contos morais'), Pauline à la plage, Agente Triplo; e tantos ainda para ver, tantos corpos, tantas palavras, tantos amores/ paixões, tanta beleza, tantas mulheres - as mulheres dos filmes de Rohmer, um espanto, indecifráveis, inqualificáveis (?)

Homem da literatura, os seus filmes são também livros, contos, adaptações de romances. Morreu um mestre, que manteve uma lucidez invejável(-inimaginável) até ao fim, o último filme não é um filme de um homem de 87, mas de um homem imortal (e aqui remeto para o texto do Luís Miguel Oliveira no Público). La Beauté.

8.1.10

'The kid is a quitter'. He'll always be a quitter.

7.1.10

blogs '09

a. dias felizes
b. vontade indómita
c. a lei seca

ainda:
um blog sobre kleist

provas de contacto

e
'hors competition', esse obscuro objecto do desejo (lo-li-ta):
magic molly

(3)

"Avatar", que não é um blockbuster qualquer feito por um cineasta qualquer, também não é um grande filme. E levantou a questão mais importante que, lá no fundo, não tem piada alguma: o 3D em relevo, afinal, nasce por razões criativas ou económicas? Hipótese pessimista (que, perante este cenário, ninguém deseja): e se "Avatar" fracassasse no box-office? E se aquelas mesmas salas que também nos mostram Tarantino, Coppola, Haneke, Oliveira e Pedro Costa fechassem as portas? Em tempos de desespero para o sector cinematográfico, que tenta resistir à crise e está à beira do colapso em toda a sua estrutura, da produção à exibição, estar dependente de uma só aposta, de um tiro no escuro que é um tudo ou nada, só pode ser desconfortável. "O Wrestler" e aquele extraordinário Mickey Rourke recauchutado não nos falou de outra coisa.

(Francisco Ferreira, no Expresso)
I'm like my mother, I stereotype - it's faster.

George Clooney (aka Ryan Bingham), em Up in the air (2009, Jason Reitman) - em Portugal talvez em 2010.
[trailers]

(2)

Mas sobre Avatar há algo que não se pode negar, que é um filme eficaz (mesmo que tenhamos muita resistência a clichés e estereótipos - porém para amadores do Hollywood Clássico não deverá ser muito difícil) e persistente. A hiper-estilmulação cerebral provocada pelo 3D, cenários, cores, acção (o luxo), reacende-se na altura de ir dormir - é algo incómodo, como se fosse uma ideia obsessiva que não nos pertence.
Torço o nariz à parte final, da batalha, excessiva.

também foste? (Avatar)

Avatar: sala cheia de pessoas (organismos vivos que respiram e emitem sons), pipocas, bebidas, lixo. Lisboa

Eu fui, agora, depois do Natal, e posso dizer que o 3D é o futuro: dos videojogos, da realidade virtual (oxalá já tenha morrido entretanto - eu), mas nunca do cinema. Está de passagem. O 3D é uma moda, uma superfície, uma veste, um adereço/ artifício - não é cinema. E não há nada como depois do filme, à saída da sala, colocar os óculos no balde para o efeito. Num futuro de 'cinema' (i.e., espectáculo) 3D, teremos lentes de contacto preparadas para dimensionar a tela (talvez até deixe de haver tela, - um cubo, nós no meio, atacados sensorialmente, até ao orgasmo ou morte); eu terei de pagar um pouco mais por causa da graduação (compensar a minha ligeira invisualidade).

Comparando com o ano passado (2008 e não 2009 - 2010 é coisa em que se entra devagar), lembrou-me o ameno (e no entanto cheio de pompa!) Australia (2008) - até os poria lado a lado (embora tenha que admitir que Avatar me deu um pouco mais de prazer, porque tem uma jovem belíssima - assim a fizeram, muito devem ter estudado, para preencher desejos - corpo de modelo, linhas exóticas e irresistíveis [principalmente quando está em momento fértil], sorriso tímido mas sedutor). Alguém ficou para o genérico final, com a saída em massa, e ouviu uma música de muito mau gosto - uma voz -, parente da de Céline Dion? O amor não tem limite.

E o tribalismo, o mimetizar, na caracterização, do povo nativo de Pandorra (= caixinha de surpresas) - espécie de índios e tribos africanas (conceitos vastíssimos, sempre evocativos). Pode dizer-se que 'Pandorra' é a heroína (Neytiri) e não o planeta, no seu papel para com Jake Sully (nome que nos parece algo desleixado - também lhe veio à cabeça a música de Johnny Cash, "a boy named Sue"?).

Sobre o 'realismo', não é factor. Realism, título do novo álbum dos Magnetic Fields, a sair no final deste mês, esse sim será factor decisivo no balanço musical de 2010 - listas!)

Com ou sem 3D, pouco se nota. A diferença é que sem os óculos parece um jogo de computador, e com eles um filme de animação (os diferentes planos de profundidade - personagens e objectos planos, na forma [visual] e escrita). O 3D sente-se somente quando em alguns momentos vem até nós e ouvem-se comentários "quase que podia tocar", porque está 'no meio de nós' - aí torna-se intrigante, deixa-me a pensar na porrada sensorial com que vamos levar, cada vez mais. Qualquer dia seremos nós a ligar os nossos terminais nervosos, na ponta dos cabelos ou na espinal à altura dos rins (em forma de vagina ou de olho do cu - Cronenberg), às tecnologias agora emergentes. Oui, oui, oui, l'avenir!



- já foste?
- não.
- então vai. e não te esqueças de deixar os óculos à saída. porque nos próximos 3 anos vais ter ziliões deles. e já a seguir a Alice in 3D-lândia do Burton.

6.1.10

o empirista


... também leu Sherlock Holmes.

3.1.10

2010 (cinema)

Perdoem-me a preguiça, mas depois e Junho não voltei actualizar esta coisa. Fica o link (bastardo) para a lista 'completa' dos de 2010 (por ordem d'afecto):
http://mubi.com/lists/8548

[1ª metade de 2010]
filmes (circuito comercial e festivais - vários serão de 2009, porque aqui, ao contrário da música, conta a distribuição nacional - com ocasionais excepções)
1. un prophèt (2009), de jacques audiard - apesar de se dizer de 2009, a estreia nacional aconteceu tão no fim desse ano que me parece mais justo aparecer em 2010 (também porque este foi um ano mais fraco), quando o vi, na primeira semana depois das férias de natal. um belíssimo filme
2. bad lieutenant: port of call new orleans (2009), werner herzog [indielx] - um 'regresso' pungente de herzog, com o seu humor negro e des-fineza de costume. dá gosto um cage assim
3. mother ("madeo", 2009), de bong joon-ho [indielx]
4. fantasia lusitana (2010), de joão canijo [indielx]
5. visage (2009), tsai ming-liang [indielx]
6. accident (2009), de soi cheang [indielx]
7. alice in wonderland (2010), de tim burton - (e aqui o 3d é adição e não dúbia estratégia comercial) uma maravilha de filme (e passou tão rápido, apetia mais meia hora, e uma sequela...)
8. my son, my son, what have ye done (2009), werner herzog [indielx]
9. a single man (2009), de tom ford (3/5) - principalmente (e quase exclusivamente) por causa de colin firth, enorme
10. up in the air (2009), de jason reitman - o melhor filme de reitman até agora, o único acima de aceitável e muito por causa da co-pilotagem de clooney
. les herbes folles (2009), de alain resnais
. whatever works (2009), de woody allen - em automático também sabe bem
. fantastic mr. fox, de wes anderson (2009)

cinemateca, festivais, ciclos (filmes vistos fora de contexto)
lado a
. solntse (2005), aleksander sokurov - filme impressionante, fica na memória a fotografia (de sokurov), a interpretação/criação de issei ogata (o imperador hirohito), o tempo-lentidão cerimonial, o assombroso trabalho sonoro.
. le feu follet (1963), louis malle - o filme que me levou a uma crise de melancolia de alguns dias
. charulata (1964), satyajit ray - o ano da descoberta (finalmente) de ray.
. la prima notte di quiete (1972), valerio zurlini - delon impecável, petrovna assombrosa (como vanina), banda-sonora condizente de nascimbene. e zurlini acima de todos eles
. alguns dias na vida de oblomov (1979), nikita mikhalkov
. life without death (2000), frank cole [doc.]
. junior bonner (1972), sam peckinpah - american south soul, com um belíssimo steve mcqueen
. the portrait of jennie (1948), de william dieterle - lembrou-me outro dos meus preferidos, the ghost and mrs. muir, de mankiewicz, que vi no ano passado
. jaime (1973), de antónio reis [doc.]

lado b
. sauve qui peut (la vie) (1980), de jean-luc godard [indielx]
. pick-up on south street (1953), de samuel fuller - violência e sensualidade.
. dishonored (1931), josef von sternberg - luz, piano e morte, disfarces-metamorfoses de marlene dietrich
. beau travail (1999), de claire denis [indielx]
. the bonnie parker story (1958), william witney - oh maravilhoso genérico inicial, elipses e economia narrativa

lado c
. swamp water (1941), de jean renoir - de como renoir adoptou hollywood
. samma no aji (1961 - "an autumn afternoon" ou "o gosto do saké"), de yasujiro ozu - o último filme de ozu, e talvez o mais cómico. o título português (que é uma tradução directa do título francês) pode explicar-se por em quase, senão, todos os encontros dos amigos se beber saké e algum deles sair embriagado. quando vêmos um plano isolado dos últimos filmes (a cores) de ozu ficamos sem saber a que filme pertence - repetem-se os actores, o escritório, a cidade, a casa, os temas (pequenas variações) - e adoramos sempre. a música (e alguns planos de edifícios e ruas) lembrando jacques tati (outro mestre da comédia) de mon oncle (1958) ou playtime (1967).
. estate violanta (1959), de valerio zurlini - é isto
. underworld u.s.a. (1961), de samuel fuller
. the miracle of morgan's creek, (1944), de preston sturges
@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


pesquisar no blogue

links

arquivo

tags

livros (48) cinema (46) autobiografia (38) filmes (31) cinemateca (24) teatro (18) literatura (17) música (12) Rubem Fonseca (8) cinema norte-americano (6) concerto (6) Culturgest (5) Machado de Assis (5) Verão (5) jazz (5) Gulbenkian (4) Público (4) TV (4) Teatro Maria Matos (4) cultura (4) pintura (4) DocLisboa (3) John Huston (3) blogues (3) costumes (3) dança (3) exposições (3) melancolia (3) mulheres (3) musica (3) personalidades (3) política (3) políticas culturais (3) Album (2) Billy Wilder (2) Boris Barnet (2) California (2) Casa da Música (2) Christian Bale (2) Dexter (2) El País (2) Eric Rohmer (2) François Truffaut (2) Gabriela Canavilhas (2) Girls (2) Governo (2) Jean-Pierre Léaud (2) Memorial de Aires (2) Michael C. Hall (2) Pedro Mexia (2) Philip Roth (2) Ramón Lobo (2) Robert Bresson (2) San Francisco (2) Spike Jonze (2) The Humbling (2) Xavier Le Roy (2) escuta (2) impressões (2) jornais (2) le sacre du printemps (2) performance (2) reportagem (2) séries (2) trailers (2) vontade indómita (2) xkcd (2) 1969 (1) 9 (1) Adolfo Bioy Casares (1) Afeganistão (1) António Lobo Antunes (1) António Machado Pires (1) António Pinho Vargas (1) Beat the Deavil (1) Bored to Death (1) Burnt Friedman (1) Californication (1) Como me tornei monja (1) Culturgest Porto (1) César Aira (1) Darren Aronofsky (1) District 9 (1) Edward Norton (1) Eimuntas Nekrosius (1) El Espiritu de la Colmena (1) Electrelane (1) Eric Von Stroheim (1) Evan Parker (1) Festa do Cinema Francês (1) Francisco Colaço Pedro (1) Gonzales (1) Grizzly Bear (1) Guardian Books Blog (1) Henri Fantin-Latour (1) Henri Texier (1) Hugh Hefner (1) Invenção de Morel (1) Jacques Rivette (1) Jaki Liebezeit (1) James Gray (1) Jean Renoir (1) Jeanne Balibar (1) Joan Didion (1) Jonathan Mostow (1) Jonathan Rosenbaum (1) José Miguel Júdice (1) La Grande Illusion (1) Les 400 Coups (1) Louis Sclavis (1) Lubitsch (1) Luc Moullet (1) Ma nuit chez maud (1) Malcolm Lowry (1) Mark Deputter (1) Miami (1) Molly Young (1) Neil Blomkamp (1) Neutral Milk Hotel (1) Olivia Thirlby (1) Peter Evans (1) Philippe Quesne (1) Porto (1) Proust Questionnaire (1) Santo Agostinho (1) Serralves (1) Surrogates (1) Teatro Nacional São João (1) The Fantastic Mr. Fox (1) Timor-Leste (1) Under the volcano (1) Vanity Fair (1) Victor Erice (1) Werner Herzog (1) Wes Anderson (1) Where the wild things are (1) Yellow House (1) amizade (1) arte (1) averdade (1) bairro (1) bd (1) blogue (1) cebolas (1) cinema asiático (1) cinema de animação (1) cinema e literatura (1) confissões (1) culpa (1) câmara clara (1) desigualdade sexual (1) editorial (1) electrónica (1) exploração sexual (1) fake empire (1) fastasmas (1) free-love (1) glamour (1) guerra (1) homens (1) indiepoprock (1) ioga (1) joana (1) jovens (1) l'effet de serge (1) late youth (1) mulher (1) noite (1) nostalgia (1) nudismo (1) nytimes (1) portugueses (1) senhoras (1) sociedade (1) solo piano (1) the national (1) tráfico humano (1)

Seguidores