notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

12.1.10

Eric Rohmer (1920-2010)



Hoje (ontem), na sala do Saldanha Residence, poucos minutos depois de Un Prophète começar (justo aí, no debut deste belíssimo filme de Audiard, que no final saindo para o Saldanha nocturno, frio, desolado, o McDonald's igual ao da Place de la République, fome tardia, nostalgia - um cheese e meia-hora de conversa animada com J., vêm-me muitas coisas, muitos filmes à cabeça, sinto-me flutuante), o meu amigo J. me disse, 'o Eric Rohmer morreu, morreu hoje.'

Não acreditei à primeira. Como podia não saber, não ter sabido.

O Eric Rohmer que conheço é este, de 80 e tal anos, de Les amours d'Astrée et de Céladon (2007), o meu filme preferido de 2008, o melhor filme desse ano (seguindo-se-lhe o Aleksandra [2007], de Sokurov). Por mais estranho que pareça foi o meu primeiro filme de Rohmer. Começei pelo fim. E tornou-se desde logo uma referência. Só mais tarde me dei conta que já tinha visto uma curta-metragem sua "Place de l'Étoile" (1965), do filme colectivo Paris vu par...

Rohmer foi o último dos principais realizadres da Nouvelle Vague francesa a que cheguei: primeiro Truffaut, depois Godard, o subversivo Chabrol, o deslumbramento musical com Demy, (que dirão não ser nouvelle vague), Resnais, Rivette (também tardio), e no fim aquele que passou a ser "o meu realizador da nouvelle vague", o mais secreto, subtil, essencial, o que acaba por me definir melhor (que mais diz sobre mim, sobre o que não digo), Eric Rohmer.

[ouço o último álbum de Benjamin Biolay, La superbe (2009)]

No espaço de um ano e meio seguiram-se em diferentes lugares - cinemas, cinemateca, dvds - Ma nuit chez Maud (e apaixonei-me definitivamente), La collectionneuse, Le genou de Claire, L'amour l'après midi (... 'contos morais'), Pauline à la plage, Agente Triplo; e tantos ainda para ver, tantos corpos, tantas palavras, tantos amores/ paixões, tanta beleza, tantas mulheres - as mulheres dos filmes de Rohmer, um espanto, indecifráveis, inqualificáveis (?)

Homem da literatura, os seus filmes são também livros, contos, adaptações de romances. Morreu um mestre, que manteve uma lucidez invejável(-inimaginável) até ao fim, o último filme não é um filme de um homem de 87, mas de um homem imortal (e aqui remeto para o texto do Luís Miguel Oliveira no Público). La Beauté.

Sem comentários:

Enviar um comentário

@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


pesquisar no blogue

links

tags

livros (48) cinema (46) autobiografia (38) filmes (31) cinemateca (24) teatro (18) literatura (17) música (12) Rubem Fonseca (8) cinema norte-americano (6) concerto (6) Culturgest (5) Machado de Assis (5) Verão (5) jazz (5) Gulbenkian (4) Público (4) TV (4) Teatro Maria Matos (4) cultura (4) pintura (4) DocLisboa (3) John Huston (3) blogues (3) costumes (3) dança (3) exposições (3) melancolia (3) mulheres (3) musica (3) personalidades (3) política (3) políticas culturais (3) Album (2) Billy Wilder (2) Boris Barnet (2) California (2) Casa da Música (2) Christian Bale (2) Dexter (2) El País (2) Eric Rohmer (2) François Truffaut (2) Gabriela Canavilhas (2) Girls (2) Governo (2) Jean-Pierre Léaud (2) Memorial de Aires (2) Michael C. Hall (2) Pedro Mexia (2) Philip Roth (2) Ramón Lobo (2) Robert Bresson (2) San Francisco (2) Spike Jonze (2) The Humbling (2) Xavier Le Roy (2) escuta (2) impressões (2) jornais (2) le sacre du printemps (2) performance (2) reportagem (2) séries (2) trailers (2) vontade indómita (2) xkcd (2) 1969 (1) 9 (1) Adolfo Bioy Casares (1) Afeganistão (1) António Lobo Antunes (1) António Machado Pires (1) António Pinho Vargas (1) Beat the Deavil (1) Bored to Death (1) Burnt Friedman (1) Californication (1) Como me tornei monja (1) Culturgest Porto (1) César Aira (1) Darren Aronofsky (1) District 9 (1) Edward Norton (1) Eimuntas Nekrosius (1) El Espiritu de la Colmena (1) Electrelane (1) Eric Von Stroheim (1) Evan Parker (1) Festa do Cinema Francês (1) Francisco Colaço Pedro (1) Gonzales (1) Grizzly Bear (1) Guardian Books Blog (1) Henri Fantin-Latour (1) Henri Texier (1) Hugh Hefner (1) Invenção de Morel (1) Jacques Rivette (1) Jaki Liebezeit (1) James Gray (1) Jean Renoir (1) Jeanne Balibar (1) Joan Didion (1) Jonathan Mostow (1) Jonathan Rosenbaum (1) José Miguel Júdice (1) La Grande Illusion (1) Les 400 Coups (1) Louis Sclavis (1) Lubitsch (1) Luc Moullet (1) Ma nuit chez maud (1) Malcolm Lowry (1) Mark Deputter (1) Miami (1) Molly Young (1) Neil Blomkamp (1) Neutral Milk Hotel (1) Olivia Thirlby (1) Peter Evans (1) Philippe Quesne (1) Porto (1) Proust Questionnaire (1) Santo Agostinho (1) Serralves (1) Surrogates (1) Teatro Nacional São João (1) The Fantastic Mr. Fox (1) Timor-Leste (1) Under the volcano (1) Vanity Fair (1) Victor Erice (1) Werner Herzog (1) Wes Anderson (1) Where the wild things are (1) Yellow House (1) amizade (1) arte (1) averdade (1) bairro (1) bd (1) blogue (1) cebolas (1) cinema asiático (1) cinema de animação (1) cinema e literatura (1) confissões (1) culpa (1) câmara clara (1) desigualdade sexual (1) editorial (1) electrónica (1) exploração sexual (1) fake empire (1) fastasmas (1) free-love (1) glamour (1) guerra (1) homens (1) indiepoprock (1) ioga (1) joana (1) jovens (1) l'effet de serge (1) late youth (1) mulher (1) noite (1) nostalgia (1) nudismo (1) nytimes (1) portugueses (1) senhoras (1) sociedade (1) solo piano (1) the national (1) tráfico humano (1)

Seguidores