notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

28.2.13

"Que fazeis, homens de bem?"

FREI TIMÓTEO
As pessoas mais caritativas deste mundo são as mulheres, e as mais enfadonhas. Quem as afasta foge ao enfado e ao proveito; quem lhes dá conversa tem o proveito e o enfado juntos. É verdade que não há mel sem moscas — Que fazeis, homens de bem? 

Nicolau Maquiavel, A Mandrágora


ir a banhos

CALÍMACO — É Verdade. No entanto, quando qualquer coisa traz vantagens a um homem, temos de crer, se tu lho dizes, que te servirá de boa-fé. Prometi-lhe, se se sair bem, dar-lhe grande soma de dinheiro; se se sair mal, uma ceia e um almoço; de qualquer maneira, pelo menos não comerei sozinho.

[...]


DOUTOR NÍCIAS — Porque o meu lugar é aqui, e não gosto de abandonar o meu posto. Depois, ter de fazer a mudança dos criados, dos trastes, não me quadra. Além disso, falei esta tarde com vários médicos. Um diz-me que vá para São Filipe; outro, para a Porretta; outro, ainda, para a Villa; parecem-me um bando de pegas; na verdade, esses doutores em Medicina não sabem nada.


[...]

LIGÚRIO — Muito me espanta pois que, tendo vós [D. Nícias] mijado em tanto canto do mundo, façais tal dificuldade em ir aos banhos.

calai-vos

Deus vos salve, amáveis ouvintes
Que nos recebestes com benevolência.
Por vos sermos gratos,
Se continuais calados,
Far-vos-emos ouvir
Um novo caso surgido na cidade.

Nicolau Maquiavel, A Mandrágora (1518?) [trad. Carmen González, Lisboa: Ed. Estampa, 1970:19]

17.2.13

Michel Auder — cinema



a não perder
todos os domingos, até 14 de abril — na culturgest

12.2.13

Afrika

CAL
[...] Mas não é por estarmos no fundo deste buraco que nos devemos deixar ir, pelo menos é o que penso. Eu, por exemplo, interesso-me por montes de coisas, gosto de conversar, gosto de me divertir, gosto sobretudo de trocar ideias. Olha, podes não acreditar, mas era doido por filosofia. E onde é que há disso aqui? Não, África não é o que a gente julgava bébé. E até os velhos que cá estão não nos deixam trazer ideias novas; a empresa, o trabalho, não temos tempo para mais nada. E no entanto ideias não me faltam, ou antes, não me faltavam. À força de pensar, pensar, pensar sempre sozinho, as ideias acabam por rebentar na cabeça, uma a uma; assim que ponho alguma em marcha, plof, como um balão, plof.
(pp. 53-54)

O SONHO DA CASA DE CAMPO DOS COLONOS, SEGUNDO HORN
Todos sonham com a França, mas ninguém sai daqui. Todos falam da casa de campo francesa, e fazem planos durante anos, mas nem de rastos saíam daqui. É certo que se queixam, não páram de queixar-se, mas há uma coisa que eu sei: onde houver dinheiro, não há pontapé no cu que consiga afastar alguém que dele tenha provado. E, na África, dinheiro é coisa que não falta. É por isso que nem do seu campo, nem da sua França, alguma vez recebi qulquer postal desses sonhadores.
(p. 124)

Bernard-Marie Koltès, Combate de negro e de cães (1979) [trad. Eduardo Siopa, Lisboa: Edições Cotovia, 1999].

[Imagem: White Dog (1982), de Samuel Fuller]
@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


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