notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

30.3.10

old movies


aqui, o inverso

[Jessie] I like old movies on television where a man lights a woman's cigarette. That's all they seemed to do in those old movies, the men and women. I'm normally so totally disregardless. But every time I see an old movie on television, I keep a sharp eye out for a man lightning a woman's cigarette.

Don DeLillo, Point Omega

26.3.10

watching (a) psycho in a summer dress

Anthony Perkins turns his head in five incremental movements rather than one continous motion. It was like bricks in a wall, clearly countable, not like the flight of an arrow or a bird.
[...]
Everybody was watching something. He was watching two men, they were watching the screen, Anthony Perkins at his peephole was watching Janet Leigh undress.
[...]
He was thinking a woman would enter who'd stay and watch for a time, finding her way to a place at the wall, an hour, half an hour, that was enough, half an hour, that was sufficient, a serious person, soft-spoken, wearing a pale summer dress.

Don DeLillo, Point Omega (2010)

20.3.10

Nunca viste o campo


Guilherme És como eu quiser. Disse que eras como um campo. Eras como um campo, aí sentada. Agora não. Passou. Não és como um campo, sentada aí, agora.
Rapariga Digo-te como é que sou. Sou como sou.
Guilherme Tens bom corpo.
Rapariga Tens com corpo.
Guilherme Bom corpo, agora. O melhor da terra.
Rapariga Isto é um campo? (Ele apalpa-a.) Diz-me. É um campo?
Guilherme Nunca viste o campo.

Facas nas Galinhas, de David Harrower


12.3.10

sábado (dia 13), às 15:30, na cinemateca portuguesa


Destry Rides Again (1939), de George Marshall, com Marlene Dietrich e James Stewart

Owen Pallett no MM ou apologia da não existência do outro enquanto mimetização de outros enquanto ajunta/ de identificação-partilha de devotismos

Chateia-me, ora sim ora não, o Teatro Maria Matos. A surpresa quando a há tem sido pela negativa. Agora o 2º dia do concerto de Owen Pallett em que estive presente mas que não presenciei. Porque não é difícil embirrar. E eu, chegando às 22h para um concerto vejo-me defronte o antagónico - inesperada 1ª parte de uma banda (portuguesa? mas a quem interessa a putativa nacionalidade) do género gothic doom. O problema aqui não é o género em si, mas o contraponto desse com a o 'indiepop barroco ou orquestral' (o que quiserem chamar, que seguir-lhe-ia) é que soa a insulto (não porque haja algo de sagrado ou melhor no segundo, mas porque simplesmente não há paciência para provocações ou inocências). Não se compra um bilhete para se esperar - a não ser que se esteja num festival ou numa casa de concertos rock nocturnos. Mas aqui estávamos no Maria Matos, a que se exige o mesmo Culturgest ou CCB, para referir os mais conhecidos. Assim, Owen Pallett só começaria pelas 23:15. Foi a essa hora que cheguei a casa, porque o dinheiro do bilhete não vale a indisposição da indignação, do esvaziamento. Porque não espero meia hora por uma peça de teatro, por um concerto de jazz, por uma merda dessas, sem que exija a devolução do bilhete. E saio a meio quando estou a ser estupidificado. Não tenho problemas com isso. Um bilhete é um contrato por vezes libertador.
No fim de contas fui eu que não fui ao site da casa para ver a actualização dos dados que dizia que no 2º dia havia 1ª parte - sou o ignorante, o idiota indignado, e faço estrilho disso.
Como adoro o ambiente borbulhante dos concertos rock e pop indie - uma massa homogénea (e repugnante) de juventude tardie que se chama de alternativa (por ser cool?) e que partilha de dress code entre outros códigos, tais como rapaz alto e magro de all-stars, ou magro e baixinho de óculos de massa, ou gordinho que estuda antropologia, ou que estuda belas artes, ou que estuda na Universidade Nova da Av. de Berna, ou que já deixou de estudas, e que também é rapariga de All-Stars e tal como o rapaz calças justas de ganga de cores para o escuro mas variadas consoante a estação, ou ténis pequeninos e rotos de paninho, ou Vans?, ou óculos de massa (2), ou a postura e o pair pressure - que mais?, nada de especial, é do mesmo, são grupos, com os seus códigos e símbolos e posturas/personalidade repetidas ao infinito - o pior é isso, o artificialismo, toda a construção de uma figura (os gestos, o manear da cabeça, o devotismo) que quando se junta a todas a outras fazem como que uma manada que pasta nas plateias alternativas nas cidadezinhas por esse mundo fora, com variações. Não é objectivo meu julgar ou enumerar preconceitos relativos a grupos/tribos/clãs(?) sociais. Em boa verdade não tenho objectivos. (apenas) Atiro pedras, como na infância, para passar o tempo e acertar a pontaria sempre desalinhada.
Sou apologista da independência, faz-me espécie os encarneiramentos. Vale cada vez menos a pena o esforço. Um CD, um bom sistema de som... de que serve a presença dos artistas se 80% das vezes não têm aura (não há adição ao registo gravado, a bem dizer, não há presença). Há dias assim, de tolerância zero. Outros há em que a surpresa é uma dádiva. Fica o desabafo da minha impaciência.

Ao menos houve Underworld U.S.A. (1961), do Samuel Fuller, às 19h (dia 11) na Cinemateca. Tudo melhora. Com a tela e defronte dela (pensamento em flash-back) pacifico-me. Benditos sejam os fantasmas, presenças revigorantes!

notas: o que começa por ser um ataque parcialmente injustificado ao MM, pois a 1ª parte deve ter sido escolha do artista principal, acaba em ataque a um público (que no fundo é aos públicos em geral); sinais de frustração e intolerância (passageiros?), não é mais do que uma queixa de si para si mesmo (mas também é mais que isso) - mantém-se o misantropismo: aqui não cedo, pois há vícios que aprendemos a cultivar.

8.3.10

alice

Depois de Alice in Wonderland (2010), de Tim Burton, apetecia uma sequela, podia ser já no próximo ano. O 3D como adição. A graciosidade encantadora de Alice (Mia Wasikowska).

4.3.10

MEC

Hoje, no Público (edição impressa), uma crónica antológica de Miguel Esteves Cardoso, "O ultraje" - a indignação perante a censura e destruição de cultura que agora se tornou sistemática, por razões meramente comerciais, pelo grupo LeYa. Só por isso já vale a pena comprar o jornal.

2.3.10

Estate Violenta


(Estate Violenta, 1959, de Zurlini)

"Em longos planos com um prodigioso movimento interno, com sucessivas entradas e saídas de campo dos actores, a câmara vai apertando o cerco em tomo do par, da mesma maneira que Trintignant vai encerrando Rossi-Drago no seu olhar. O que a câmara segue, no fundo, é o duelo de olhares que ali se trava, as perseguições e as fugas, numa sequência vertiginosa e verdadeiramente antológica."

(Luís Miguel Oliveira, "folhas da cinemateca" 1 de Março, 2010)





le feu follet (1963, de louis malle)

1.3.10

(...) sendo-me difícil, dolorosa mesmo, a indispensável depuração imposta pelo crescimento desordenado e quase daninho [das pilhas de livros], mas nunca claustrofóbico. Até serem exilados para estantes menos consultadas, cumprem um curioso movimento de rotação - vasos, livros comunicantes? -, sobrepondo-se e impondo-se reciprocamente, sobre a mesa que medeia entre o sofá e o nicho na estante onde trabalho.

Jorge Fallorca, a cicatriz do ar (2001, Black Sun Editores)
@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


pesquisar no blogue

links

tags

livros (48) cinema (46) autobiografia (38) filmes (31) cinemateca (24) teatro (18) literatura (17) música (12) Rubem Fonseca (8) cinema norte-americano (6) concerto (6) Culturgest (5) Machado de Assis (5) Verão (5) jazz (5) Gulbenkian (4) Público (4) TV (4) Teatro Maria Matos (4) cultura (4) pintura (4) DocLisboa (3) John Huston (3) blogues (3) costumes (3) dança (3) exposições (3) melancolia (3) mulheres (3) musica (3) personalidades (3) política (3) políticas culturais (3) Album (2) Billy Wilder (2) Boris Barnet (2) California (2) Casa da Música (2) Christian Bale (2) Dexter (2) El País (2) Eric Rohmer (2) François Truffaut (2) Gabriela Canavilhas (2) Girls (2) Governo (2) Jean-Pierre Léaud (2) Memorial de Aires (2) Michael C. Hall (2) Pedro Mexia (2) Philip Roth (2) Ramón Lobo (2) Robert Bresson (2) San Francisco (2) Spike Jonze (2) The Humbling (2) Xavier Le Roy (2) escuta (2) impressões (2) jornais (2) le sacre du printemps (2) performance (2) reportagem (2) séries (2) trailers (2) vontade indómita (2) xkcd (2) 1969 (1) 9 (1) Adolfo Bioy Casares (1) Afeganistão (1) António Lobo Antunes (1) António Machado Pires (1) António Pinho Vargas (1) Beat the Deavil (1) Bored to Death (1) Burnt Friedman (1) Californication (1) Como me tornei monja (1) Culturgest Porto (1) César Aira (1) Darren Aronofsky (1) District 9 (1) Edward Norton (1) Eimuntas Nekrosius (1) El Espiritu de la Colmena (1) Electrelane (1) Eric Von Stroheim (1) Evan Parker (1) Festa do Cinema Francês (1) Francisco Colaço Pedro (1) Gonzales (1) Grizzly Bear (1) Guardian Books Blog (1) Henri Fantin-Latour (1) Henri Texier (1) Hugh Hefner (1) Invenção de Morel (1) Jacques Rivette (1) Jaki Liebezeit (1) James Gray (1) Jean Renoir (1) Jeanne Balibar (1) Joan Didion (1) Jonathan Mostow (1) Jonathan Rosenbaum (1) José Miguel Júdice (1) La Grande Illusion (1) Les 400 Coups (1) Louis Sclavis (1) Lubitsch (1) Luc Moullet (1) Ma nuit chez maud (1) Malcolm Lowry (1) Mark Deputter (1) Miami (1) Molly Young (1) Neil Blomkamp (1) Neutral Milk Hotel (1) Olivia Thirlby (1) Peter Evans (1) Philippe Quesne (1) Porto (1) Proust Questionnaire (1) Santo Agostinho (1) Serralves (1) Surrogates (1) Teatro Nacional São João (1) The Fantastic Mr. Fox (1) Timor-Leste (1) Under the volcano (1) Vanity Fair (1) Victor Erice (1) Werner Herzog (1) Wes Anderson (1) Where the wild things are (1) Yellow House (1) amizade (1) arte (1) averdade (1) bairro (1) bd (1) blogue (1) cebolas (1) cinema asiático (1) cinema de animação (1) cinema e literatura (1) confissões (1) culpa (1) câmara clara (1) desigualdade sexual (1) editorial (1) electrónica (1) exploração sexual (1) fake empire (1) fastasmas (1) free-love (1) glamour (1) guerra (1) homens (1) indiepoprock (1) ioga (1) joana (1) jovens (1) l'effet de serge (1) late youth (1) mulher (1) noite (1) nostalgia (1) nudismo (1) nytimes (1) portugueses (1) senhoras (1) sociedade (1) solo piano (1) the national (1) tráfico humano (1)

Seguidores