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12.3.10

Owen Pallett no MM ou apologia da não existência do outro enquanto mimetização de outros enquanto ajunta/ de identificação-partilha de devotismos

Chateia-me, ora sim ora não, o Teatro Maria Matos. A surpresa quando a há tem sido pela negativa. Agora o 2º dia do concerto de Owen Pallett em que estive presente mas que não presenciei. Porque não é difícil embirrar. E eu, chegando às 22h para um concerto vejo-me defronte o antagónico - inesperada 1ª parte de uma banda (portuguesa? mas a quem interessa a putativa nacionalidade) do género gothic doom. O problema aqui não é o género em si, mas o contraponto desse com a o 'indiepop barroco ou orquestral' (o que quiserem chamar, que seguir-lhe-ia) é que soa a insulto (não porque haja algo de sagrado ou melhor no segundo, mas porque simplesmente não há paciência para provocações ou inocências). Não se compra um bilhete para se esperar - a não ser que se esteja num festival ou numa casa de concertos rock nocturnos. Mas aqui estávamos no Maria Matos, a que se exige o mesmo Culturgest ou CCB, para referir os mais conhecidos. Assim, Owen Pallett só começaria pelas 23:15. Foi a essa hora que cheguei a casa, porque o dinheiro do bilhete não vale a indisposição da indignação, do esvaziamento. Porque não espero meia hora por uma peça de teatro, por um concerto de jazz, por uma merda dessas, sem que exija a devolução do bilhete. E saio a meio quando estou a ser estupidificado. Não tenho problemas com isso. Um bilhete é um contrato por vezes libertador.
No fim de contas fui eu que não fui ao site da casa para ver a actualização dos dados que dizia que no 2º dia havia 1ª parte - sou o ignorante, o idiota indignado, e faço estrilho disso.
Como adoro o ambiente borbulhante dos concertos rock e pop indie - uma massa homogénea (e repugnante) de juventude tardie que se chama de alternativa (por ser cool?) e que partilha de dress code entre outros códigos, tais como rapaz alto e magro de all-stars, ou magro e baixinho de óculos de massa, ou gordinho que estuda antropologia, ou que estuda belas artes, ou que estuda na Universidade Nova da Av. de Berna, ou que já deixou de estudas, e que também é rapariga de All-Stars e tal como o rapaz calças justas de ganga de cores para o escuro mas variadas consoante a estação, ou ténis pequeninos e rotos de paninho, ou Vans?, ou óculos de massa (2), ou a postura e o pair pressure - que mais?, nada de especial, é do mesmo, são grupos, com os seus códigos e símbolos e posturas/personalidade repetidas ao infinito - o pior é isso, o artificialismo, toda a construção de uma figura (os gestos, o manear da cabeça, o devotismo) que quando se junta a todas a outras fazem como que uma manada que pasta nas plateias alternativas nas cidadezinhas por esse mundo fora, com variações. Não é objectivo meu julgar ou enumerar preconceitos relativos a grupos/tribos/clãs(?) sociais. Em boa verdade não tenho objectivos. (apenas) Atiro pedras, como na infância, para passar o tempo e acertar a pontaria sempre desalinhada.
Sou apologista da independência, faz-me espécie os encarneiramentos. Vale cada vez menos a pena o esforço. Um CD, um bom sistema de som... de que serve a presença dos artistas se 80% das vezes não têm aura (não há adição ao registo gravado, a bem dizer, não há presença). Há dias assim, de tolerância zero. Outros há em que a surpresa é uma dádiva. Fica o desabafo da minha impaciência.

Ao menos houve Underworld U.S.A. (1961), do Samuel Fuller, às 19h (dia 11) na Cinemateca. Tudo melhora. Com a tela e defronte dela (pensamento em flash-back) pacifico-me. Benditos sejam os fantasmas, presenças revigorantes!

notas: o que começa por ser um ataque parcialmente injustificado ao MM, pois a 1ª parte deve ter sido escolha do artista principal, acaba em ataque a um público (que no fundo é aos públicos em geral); sinais de frustração e intolerância (passageiros?), não é mais do que uma queixa de si para si mesmo (mas também é mais que isso) - mantém-se o misantropismo: aqui não cedo, pois há vícios que aprendemos a cultivar.

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