"O islamismo não está interessado em soluções para o dilema do mundo árabe; ele limita-se à negação. (...) Em última análise, desejam [os islamitas] que a maioria dos habitantes do planeta, composta por não crentes e infiéis, capitule ou seja morta.
Este desejo candente é irrealizável. É certo que a energia destruidora dos perdedores radicais chega para matar milhares, talvez dezenas de milhares de pessoas indiscriminadas, e de danificar duradouramente a civilização à qual declararam guerra.
Um indício do efeito que um par de dúzias de bombas humanas conseguem obter são os controlos quotidianos a que o mundo se habituou. Cerca de 1,7 mil milhões de passageiros aéreos têm de, ano após ano, deixar-se revistar, o que não só é incómodo mas também humilhante.
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Isto é, sem dúvida, o menor dos prejuízos para a civilização que o terror causa. Ele pode produzir um clima geral de medo e despoletar contra-reacções de pânico. Ele faz crescer o poder e a influência da polícia política, dos serviços secretos, da indústria de armamento e dos prestadores de segurança privados, fomenta a votação de leis cada vez mais repressivas, envenena o clima político e conduz à perda de direitos e liberdades obtidos com lutas históricas.
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O projecto dos perdedores radicais consiste em organizar, como actualmente no Iraque e Afeganistão, o suicídio de uma civilização inteira. Não é provável que consigam generalizar e eternizar ilimitadamente o seu culto da morte. Os seus atentados constituem permanente risco de fundo, como a quotidiana morte por acidente rodoviário, à qual nos habituámos. Com isso terá de viver uma sociedade mundial, que está dependente de combustíveis fósseis e que produz em permanência novos perdedores."
Hans Magnus Enzensberger, Os homens do terror, tradução de Miguel Cardoso, Lisboa: Sextante Editora, 2008, pp.109-114
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