notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

19.1.10

cinema 2009, a lista (uff) - doze razões

i. gran torino
ii. un prophète
iii. the wrestler
iv. inglorious basterds
v. la mujer sin cabeza
vi. vengeance
vii. el cant dels ocells
viii. la danse
ix. le streghe, femmes entre elles
x. two lovers
xi. la belle personne
xii. ponyo


Un Prophète, o épico de Audiard, só não foi o filme do ano porque houve Gran Torino. Mas foram ambos, arrisco-me a dizer, as duas obras-primas, as que valerá a pena voltar num futuro não-próximo. É curioso verificar que talvez sejam os filmes mais políticos da lista (apesar de nada terem de 'empenhados'). E terá sido um ano de cinema de heróis (à antiga)?

17.1.10

pausa

este blog vai de férias por uns dias, voltará nos últimos dias de Janeiro - que sejam os últimos de chuva.

(pausa)

16.1.10

filmes anormais vistos em 2009 (e etc)

2009 foi um ano atípico. Inércia, dificuldade em acompanhar o circuito de estreias cinematográficas e quase total ignorância quanto aos lançamentos de álbuns (lamentavelmente no campo do jazz. Aqui, fiquei-me por alguns concertos).

No cinema, destaco (e faltou-me ver muita coisa), dois filmes vindos dos EUA, Gran Torino (2009, Clint Eastwood) - a obra-prima -, e a surpresa, The Wrestler (2008), de Darren Aronofsky (cujas primeiras duas longas-metragens foram apenas exercícios de estilo); bem como um realizador que nunca deixa de me seduzir (não teve distribuição comercial em PT, penso que passou no IndieLisboa), Christophe Honoré, com La belle personne (2008) - cinema pop-musical fazendo pandam (extrema coerência temática, actores recorrentes, espaço social) com os anteriores dois filmes (Les chansons d'amour [2007] e Dans Paris [2006]), o que configura uma trilogia da jeunesse bourgeoise parisiense. Apontamento para a curiosa comédia de dois argumentistas estreantes na realização (seguindo os passos de Preston Sturges, o eterno pioneiro - ciclo dele actualmente na Cinemateca), I Love You Philip Morris (2009, de Glenn Ficarra e John Requa), em que a excepcional interpretação de Ewan McGregor é o ponto alto (sendo que não houve nenhuma comédia à altura da melhor de 2008, The Darjeeling Limited [2007] de Wes Anderson - o seu melhor filme). Two Lovers (2008), de James Gray. La mujer sin cabeza (2008) - lembrando o Deserto Vermelho de Antonioni e a sua protagonista -, de Lucrecia Martel, que não foi nenhuma desilusão, ao contrário de muito do que foi apontado, mas mais uma bela adição à sua filmografia. Gake no ue no Ponyo (2008, Miyazaki - o mestre do cinema d'animação), sendo a banda-sonora demasiado pomposa o único senão deste deslumbrante filme (talvez o seu melhor deste Monoke, 1997). Star Trek (2009) do produtor de Lost, JJ Abrams, foi o bright side dos filmes de acção (Avatar coloca-se a seguir); a par de Vengeance (2009), de Johnnie To grande realizador de Hong Kong, (juntamente com Wong Kar-Wai), um belo film noir, que será uma pena se nunca chegar a estrear em Portugal. Já me esquecia do unânime Inglorious Basterds (2009, Tarantino), que está aqui (e em todo o lado) com todo o mérito.

[filmes que ficaram por ver (por preguiça, desleixe, ausência física, e falta de tempo): The Limits of Control, Jim Jarmusch - um dos meu realizadores contemporâneos preferidos; Public Enemies (2009), de Mann, cujo anterior filme foi uma muito agradável surpresa; Singularidades de uma rapariga loura (2009, Oliveira), título apelativo (e deivertido) do Eça; 35 Shots of Rum (2009), de Claire Denis (que foi assistente de realização de Jarmusch, e percebe-se) e cujo Vendredi soir (2002), é uma maravilha de ritmo e sensibilidade/ sensualidade e sonho - belo (e simples); The Hurt Locker (2008) de Kathryn Bigelow; Milk (2009), do 'meu' predilecto Van Sant, e por essa razão ainda não sei porque não vi, tive várias oportunidades- negação do prazer, relutância?; Still walking/Andando (2008), de Hirokazu Koreeda; Les plages d'Agnès (2008), de Agnès Varda; e o último a estrear em 2009, Un prophète, (2009) de Jacques Audiard.]

Nota altamente negativa para o último Von Trier, Antichrist, entra no balanço negro do ano: é um tremendo erro, filme desastroso e desgraçado, já não é cinema, mas um programa de agressão contra o espectador, uma tortura deliberada, panfleto infantil (literalmente não existe argumento ou escrita), a violência sem propósito, exercício altamente desnecessário de esquizofrenia do realizador, que já fez coisas belíssimas, entre outras, as que mais abaixo indicamos; em princípio, chega a Portugal no final de Janeiro e não tem nada a dar. Provavelmente daqui a 11 meses entrará em algumas listas do ano (de 2010), sem dúvida exibicionistas e arrogantes, bem como sem nenhuma sensibilidade cinematográfica.

Porque estrangeirado perdi o IndieLisboa, restou-me o DocLisboa. Aí, com falta de tempo, armas apontadas a Jonas Mekas - no primeiro filme Lost, Lost, Lost, só se interessa com a memória; depois, a partir dos anos 50, passa a captar a realidade imediata, espontânea (de improviso), sem plano (nunca planeia o momento de filmar): manifestação de pulsões, desejos, imprevistos e sensibilidade -, destacando principalmente Reminisciencies of a Journey to Lithuania (1971-72) e Walden (1969). Também o último documentário do mestre Frederick Wiseman, La Danse (2009)

Na Cinemateca, no Forum des Images e por aí fora, a história do cinema: La Maman et la Putain (1973), a revelação cinematográfica, talvez o filme que mais me marcou em 2009, o preto e branco de Jean Eustache. Recentemente, um tesouro da comédia (a pôr ao lado do melhor Lubitsch), The Lady Eve (1941), de Preston Sturges. O musical sonhador(-fantasia) com Les Demoiselles de Rochefort (1967, Jacques Demy). O ascetismo e violência de Werner Herzog, com L'enigne de Kasper Hauser (1974) e o absoluto Woyzeck (1979), que depois da retrospectiva integral no Centre Georges Pompidou veio dar um saltinho ao IndieLisboa. No Musée d'Orsay, nunca mudo (e com acompanhamentos ao piano ou percursão), Blind Husbands (1919), estreia sublime de Stroheim, e Greed (1923) - eterna obra mutilada (o deserto, o deserto...). Morte a Venezia (1971, Visconti), pela persistência do 4º andamento da 5ª Sinfonia de Mahler - despontando auditivamente mesmo meio ano depois de ter visto o filme - que nunca mais se desligou do filme, e o livro que também perdeu a sua independência - Visconti apoderou-se de ambos. La ragazza con la valigia (1961, Zurlini). L'homme blessé (1982), de Patrice Chéreau, filme intenso e perturbador, que serve para quem quiser perceber donde poderá vir a primeira longa de João Pedro Rodrigues, O Fantasma (2000). Les rendez-vous d'Anna (1978), de Chantal Akerman, um filme algo auto-biográfico em que a solidão e a impossibilidade do amor são temas de fundo - filme de não-lugares, road-movie -, a personagem principal, Anna, é como um espectro. The Idiots (1998), filme que vai descambando até ao penoso final, e a única e genuína (e quase genial) comédia (pós-moderna) de Lars Von Trier, The Boss of It All (2006). Foi também o ano da confirmação de Luis Buñuel como uma das minhas mais altas referências pessoais (comédia, heresia, perversão, pulsões, desejo): El Bruto (1953), Los Olvidados (1950), Él (1953 - o mais genial dos que aqui se enunciam), Le Charme Discret de la Bourgeoisie (1972) - títulos excelentes vistos pela 1ª vez em 2009 (entre outros medianos). An Affair to Remember (1957), de Leo McCarey, um dos melhores melodramas do cinema. City Girl - our daily bread (1930), belíssississimo filme de Murnau, obra-prima absoluta. Love in the Afternoon (1957), genial comédia de Billy Wilder (e encantadora Audrey Hepburn). Al Mummia (1969), um filme único (em mais do que um sentido) de Shabi Abd As-As-Salam. Higanbana (1958), de Ozu. People Will Talk (1951) e The Ghost and Mrs Muir (1947), de Mankiewicz. 'Obras-mestras' de John Huston (muito para redescobrir) - Under the Volcano (1984), The Man who would be King (1975), Beat the Devil (1954) e Fat City (1972). Bitter Victory (1957), o deserto em tempo de guerra por Nicholas Ray. Autobiografia, infância tortuosa de Bill Douglas em My Childhood (1972). Maravilhoso fenomenal, El Espiritu de la Colmena (1973), de Victor Erice. Honkytonk Man (1982), lição de humanidade e depuração no cinema, por Clint Eastwood (um dos últimos sobrevivente agora que Rohmer partiu).

[ainda bem que não houve quem me obrigasse a ser demasiado selectivo - são os filmes que mais amei, mais me estimularam, desafiaram, surpreenderam: que me deixaram uma marca]

10 concertos: Andrew Bird no Pigalle (27 d'Abril); The World Saxophone Quartet Featuring Kidd Jordan (e James Carter!) na Salle des fetes de Montreuil (30 de Março) - uma parte da história recente do jazz em palco; Deerhunter no Nouveau Casino (30 de Maio); Maria Scheneider e a Brussels Jazz Orchestra no Parc Floral de Paris (6 de Maio); música experimental e improvisada, com raízes obscuras no jazz, Nuno Rebelo e Dj Olive, na Culturgest (18 Janeiro), dentro do imperdível ciclo "Isto é Jazz?" da responsabilidade de Pedro Costa (da Trem Azul/ Clean Feed). Os super-indie Deerhoof, que há quase 15 anos fazem do rock alternativo mais excitante que por aí anda, tive sorte de ver no Villette Sonique (31 de Maio), pois ainda estou para ver o dia em que vêm a Portugal. Evan Parker Quartet (com o muito talentoso Peter Evans), na Casa da Música (12 Setembro). António Pinho Vargas a solo (31 Outubro) e Gonzales (3 Novembro), na Culturgest - bem como o mítico concerto dos Musica Elettronica Viva (também no ciclo "Isto é Jazz?", a 2 de Dezembro) - música viva, mutante, improvisada. Quando se trata de ouvir ao vivo (e nunca 'ver'), o jazz e exercícios de improviso têm vindo a ganhar espaço nas minhas deslocações a concertos, perdendo os festivais e bandas pop-rock, no geral mais entediantes e irrelevantes ao vivo (salvo algumas excepções).
[Grande ausência: Jazz em Agosto, na Gulbenkian - é sempre numa data complicada]


Nota final: a nível pessoal e emocional, como se pode ver pelo anárquico e diletante balanço cinematográfico (e mais qualquer coisa), 2009 deixou a sensação de ser um ano de merda, cinzento, com muito blue, marcado pela ausência e fracasso pessoal (e que parece prolongar-se por 2010 afora)

13.1.10

escreve sempre, todos os dias?

"De forma alguma. Marguerite Yourcenar disse que o essencial não é a escrita, é a visão. Mas para merecermos a visão é preciso muito tempo. Os livros são feitos de tempo. Temos de ler, ver filmes, amar alguém ou alguma coisa, viajar, quem sabe encontrar as nossas personagens… e, acima de tudo, esperar. É preciso descer muito fundo para chegar ao lugar onde o livro se forma. Quando me sento para começar a escrever, o livro já está terminado mentalmente."

[entrevista a Ana Teresa Pereira no JL, nº988, 13-26 Agosto de 2008]


Em Novembro último saiu, pela Relógio d'Água, outro livro de Ana Teresa Pereira, O Fim de Lizzie e Outras Histórias, que reúne duas histórias já lançadas em O Fim de Lizzie (Bolso Independente, 2008) - "Numa Manhã Fria" e "O Fim de Lizzie" -, e ainda "O Sonho do Unicórnio" (inédito). No final do livro, o belíssimo posfácio do professor/ensaísta/poeta/cinéfilo Fernando Guerreiro (também editor da marginal Black Sun Editores), "O Mal das Flores" (título que alude a Fleurs du Mal, de Baudelaire).
Nós gostamos de fantasmas, duplos, espelhos, invisível, nevoeiro--

12.1.10

Eric Rohmer (1920-2010)



Hoje (ontem), na sala do Saldanha Residence, poucos minutos depois de Un Prophète começar (justo aí, no debut deste belíssimo filme de Audiard, que no final saindo para o Saldanha nocturno, frio, desolado, o McDonald's igual ao da Place de la République, fome tardia, nostalgia - um cheese e meia-hora de conversa animada com J., vêm-me muitas coisas, muitos filmes à cabeça, sinto-me flutuante), o meu amigo J. me disse, 'o Eric Rohmer morreu, morreu hoje.'

Não acreditei à primeira. Como podia não saber, não ter sabido.

O Eric Rohmer que conheço é este, de 80 e tal anos, de Les amours d'Astrée et de Céladon (2007), o meu filme preferido de 2008, o melhor filme desse ano (seguindo-se-lhe o Aleksandra [2007], de Sokurov). Por mais estranho que pareça foi o meu primeiro filme de Rohmer. Começei pelo fim. E tornou-se desde logo uma referência. Só mais tarde me dei conta que já tinha visto uma curta-metragem sua "Place de l'Étoile" (1965), do filme colectivo Paris vu par...

Rohmer foi o último dos principais realizadres da Nouvelle Vague francesa a que cheguei: primeiro Truffaut, depois Godard, o subversivo Chabrol, o deslumbramento musical com Demy, (que dirão não ser nouvelle vague), Resnais, Rivette (também tardio), e no fim aquele que passou a ser "o meu realizador da nouvelle vague", o mais secreto, subtil, essencial, o que acaba por me definir melhor (que mais diz sobre mim, sobre o que não digo), Eric Rohmer.

[ouço o último álbum de Benjamin Biolay, La superbe (2009)]

No espaço de um ano e meio seguiram-se em diferentes lugares - cinemas, cinemateca, dvds - Ma nuit chez Maud (e apaixonei-me definitivamente), La collectionneuse, Le genou de Claire, L'amour l'après midi (... 'contos morais'), Pauline à la plage, Agente Triplo; e tantos ainda para ver, tantos corpos, tantas palavras, tantos amores/ paixões, tanta beleza, tantas mulheres - as mulheres dos filmes de Rohmer, um espanto, indecifráveis, inqualificáveis (?)

Homem da literatura, os seus filmes são também livros, contos, adaptações de romances. Morreu um mestre, que manteve uma lucidez invejável(-inimaginável) até ao fim, o último filme não é um filme de um homem de 87, mas de um homem imortal (e aqui remeto para o texto do Luís Miguel Oliveira no Público). La Beauté.

8.1.10

'The kid is a quitter'. He'll always be a quitter.

7.1.10

blogs '09

a. dias felizes
b. vontade indómita
c. a lei seca

ainda:
um blog sobre kleist

provas de contacto

e
'hors competition', esse obscuro objecto do desejo (lo-li-ta):
magic molly

(3)

"Avatar", que não é um blockbuster qualquer feito por um cineasta qualquer, também não é um grande filme. E levantou a questão mais importante que, lá no fundo, não tem piada alguma: o 3D em relevo, afinal, nasce por razões criativas ou económicas? Hipótese pessimista (que, perante este cenário, ninguém deseja): e se "Avatar" fracassasse no box-office? E se aquelas mesmas salas que também nos mostram Tarantino, Coppola, Haneke, Oliveira e Pedro Costa fechassem as portas? Em tempos de desespero para o sector cinematográfico, que tenta resistir à crise e está à beira do colapso em toda a sua estrutura, da produção à exibição, estar dependente de uma só aposta, de um tiro no escuro que é um tudo ou nada, só pode ser desconfortável. "O Wrestler" e aquele extraordinário Mickey Rourke recauchutado não nos falou de outra coisa.

(Francisco Ferreira, no Expresso)
I'm like my mother, I stereotype - it's faster.

George Clooney (aka Ryan Bingham), em Up in the air (2009, Jason Reitman) - em Portugal talvez em 2010.
[trailers]

(2)

Mas sobre Avatar há algo que não se pode negar, que é um filme eficaz (mesmo que tenhamos muita resistência a clichés e estereótipos - porém para amadores do Hollywood Clássico não deverá ser muito difícil) e persistente. A hiper-estilmulação cerebral provocada pelo 3D, cenários, cores, acção (o luxo), reacende-se na altura de ir dormir - é algo incómodo, como se fosse uma ideia obsessiva que não nos pertence.
Torço o nariz à parte final, da batalha, excessiva.

também foste? (Avatar)

Avatar: sala cheia de pessoas (organismos vivos que respiram e emitem sons), pipocas, bebidas, lixo. Lisboa

Eu fui, agora, depois do Natal, e posso dizer que o 3D é o futuro: dos videojogos, da realidade virtual (oxalá já tenha morrido entretanto - eu), mas nunca do cinema. Está de passagem. O 3D é uma moda, uma superfície, uma veste, um adereço/ artifício - não é cinema. E não há nada como depois do filme, à saída da sala, colocar os óculos no balde para o efeito. Num futuro de 'cinema' (i.e., espectáculo) 3D, teremos lentes de contacto preparadas para dimensionar a tela (talvez até deixe de haver tela, - um cubo, nós no meio, atacados sensorialmente, até ao orgasmo ou morte); eu terei de pagar um pouco mais por causa da graduação (compensar a minha ligeira invisualidade).

Comparando com o ano passado (2008 e não 2009 - 2010 é coisa em que se entra devagar), lembrou-me o ameno (e no entanto cheio de pompa!) Australia (2008) - até os poria lado a lado (embora tenha que admitir que Avatar me deu um pouco mais de prazer, porque tem uma jovem belíssima - assim a fizeram, muito devem ter estudado, para preencher desejos - corpo de modelo, linhas exóticas e irresistíveis [principalmente quando está em momento fértil], sorriso tímido mas sedutor). Alguém ficou para o genérico final, com a saída em massa, e ouviu uma música de muito mau gosto - uma voz -, parente da de Céline Dion? O amor não tem limite.

E o tribalismo, o mimetizar, na caracterização, do povo nativo de Pandorra (= caixinha de surpresas) - espécie de índios e tribos africanas (conceitos vastíssimos, sempre evocativos). Pode dizer-se que 'Pandorra' é a heroína (Neytiri) e não o planeta, no seu papel para com Jake Sully (nome que nos parece algo desleixado - também lhe veio à cabeça a música de Johnny Cash, "a boy named Sue"?).

Sobre o 'realismo', não é factor. Realism, título do novo álbum dos Magnetic Fields, a sair no final deste mês, esse sim será factor decisivo no balanço musical de 2010 - listas!)

Com ou sem 3D, pouco se nota. A diferença é que sem os óculos parece um jogo de computador, e com eles um filme de animação (os diferentes planos de profundidade - personagens e objectos planos, na forma [visual] e escrita). O 3D sente-se somente quando em alguns momentos vem até nós e ouvem-se comentários "quase que podia tocar", porque está 'no meio de nós' - aí torna-se intrigante, deixa-me a pensar na porrada sensorial com que vamos levar, cada vez mais. Qualquer dia seremos nós a ligar os nossos terminais nervosos, na ponta dos cabelos ou na espinal à altura dos rins (em forma de vagina ou de olho do cu - Cronenberg), às tecnologias agora emergentes. Oui, oui, oui, l'avenir!



- já foste?
- não.
- então vai. e não te esqueças de deixar os óculos à saída. porque nos próximos 3 anos vais ter ziliões deles. e já a seguir a Alice in 3D-lândia do Burton.

6.1.10

o empirista


... também leu Sherlock Holmes.

3.1.10

2010 (cinema)

Perdoem-me a preguiça, mas depois e Junho não voltei actualizar esta coisa. Fica o link (bastardo) para a lista 'completa' dos de 2010 (por ordem d'afecto):
http://mubi.com/lists/8548

[1ª metade de 2010]
filmes (circuito comercial e festivais - vários serão de 2009, porque aqui, ao contrário da música, conta a distribuição nacional - com ocasionais excepções)
1. un prophèt (2009), de jacques audiard - apesar de se dizer de 2009, a estreia nacional aconteceu tão no fim desse ano que me parece mais justo aparecer em 2010 (também porque este foi um ano mais fraco), quando o vi, na primeira semana depois das férias de natal. um belíssimo filme
2. bad lieutenant: port of call new orleans (2009), werner herzog [indielx] - um 'regresso' pungente de herzog, com o seu humor negro e des-fineza de costume. dá gosto um cage assim
3. mother ("madeo", 2009), de bong joon-ho [indielx]
4. fantasia lusitana (2010), de joão canijo [indielx]
5. visage (2009), tsai ming-liang [indielx]
6. accident (2009), de soi cheang [indielx]
7. alice in wonderland (2010), de tim burton - (e aqui o 3d é adição e não dúbia estratégia comercial) uma maravilha de filme (e passou tão rápido, apetia mais meia hora, e uma sequela...)
8. my son, my son, what have ye done (2009), werner herzog [indielx]
9. a single man (2009), de tom ford (3/5) - principalmente (e quase exclusivamente) por causa de colin firth, enorme
10. up in the air (2009), de jason reitman - o melhor filme de reitman até agora, o único acima de aceitável e muito por causa da co-pilotagem de clooney
. les herbes folles (2009), de alain resnais
. whatever works (2009), de woody allen - em automático também sabe bem
. fantastic mr. fox, de wes anderson (2009)

cinemateca, festivais, ciclos (filmes vistos fora de contexto)
lado a
. solntse (2005), aleksander sokurov - filme impressionante, fica na memória a fotografia (de sokurov), a interpretação/criação de issei ogata (o imperador hirohito), o tempo-lentidão cerimonial, o assombroso trabalho sonoro.
. le feu follet (1963), louis malle - o filme que me levou a uma crise de melancolia de alguns dias
. charulata (1964), satyajit ray - o ano da descoberta (finalmente) de ray.
. la prima notte di quiete (1972), valerio zurlini - delon impecável, petrovna assombrosa (como vanina), banda-sonora condizente de nascimbene. e zurlini acima de todos eles
. alguns dias na vida de oblomov (1979), nikita mikhalkov
. life without death (2000), frank cole [doc.]
. junior bonner (1972), sam peckinpah - american south soul, com um belíssimo steve mcqueen
. the portrait of jennie (1948), de william dieterle - lembrou-me outro dos meus preferidos, the ghost and mrs. muir, de mankiewicz, que vi no ano passado
. jaime (1973), de antónio reis [doc.]

lado b
. sauve qui peut (la vie) (1980), de jean-luc godard [indielx]
. pick-up on south street (1953), de samuel fuller - violência e sensualidade.
. dishonored (1931), josef von sternberg - luz, piano e morte, disfarces-metamorfoses de marlene dietrich
. beau travail (1999), de claire denis [indielx]
. the bonnie parker story (1958), william witney - oh maravilhoso genérico inicial, elipses e economia narrativa

lado c
. swamp water (1941), de jean renoir - de como renoir adoptou hollywood
. samma no aji (1961 - "an autumn afternoon" ou "o gosto do saké"), de yasujiro ozu - o último filme de ozu, e talvez o mais cómico. o título português (que é uma tradução directa do título francês) pode explicar-se por em quase, senão, todos os encontros dos amigos se beber saké e algum deles sair embriagado. quando vêmos um plano isolado dos últimos filmes (a cores) de ozu ficamos sem saber a que filme pertence - repetem-se os actores, o escritório, a cidade, a casa, os temas (pequenas variações) - e adoramos sempre. a música (e alguns planos de edifícios e ruas) lembrando jacques tati (outro mestre da comédia) de mon oncle (1958) ou playtime (1967).
. estate violanta (1959), de valerio zurlini - é isto
. underworld u.s.a. (1961), de samuel fuller
. the miracle of morgan's creek, (1944), de preston sturges

1.1.10

bird/vincent

girls

'hellhole retrace'

(música do ano, e já agora também videoclip)
@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


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