notas culturais, fragmentos do exílio - venturabravo [at] gmail [dot] com

3.8.09

Morel (1)

O meu pau enrijecido fica portentoso, modéstia à parte; mole, ele quase desaparece. Quem entendesse de pênis, como W. H. Auden, por exemplo, ao ver o meu, amolecido, saberia pelos vincos da pele, que, duro, ele aumentaria muito de comprimento e largura, e ficaria roxo, coberto de veias salientes. Mas nem todos têm olhos de poeta para ver. (O Caso Morel)

Rubem Fonseca (n. 1925) é cinema. No seu primeiro romance, O Caso Morel (1973), é literatura erótico (/pornográfico)-policial (mas porquê reduzi-lo?), reflexão sobre a arte contemporânea, e continua sendo cinema.
"Você mandou alguma coisa para a Bienal?"
"Mandei. Conexão."
"Conexão?"
"De esgotos. Vários tubos ligados, um intestino quadrado."
"Foi aceito?"
"Foi."
É pungente, humor seco, debochado, directo, cortante, transgressivo, de moral duvidosa (a melhor). As personagens são marcadas em algumas palavras.
"Entra dentro de mim... quero que você faça tudo comigo!" Joana queria ser espancada, aviltada, sodomizada, queria ter o rosto lambuzado pelo sêmen. Fiz sua vontade.
O livro foi lançado em plena ditatura miliatar e logo confiscado pelas autoridades.
Paul Morel (ou Morais, no B.I., porque Morel é artístico, e ele logo se envergonha desse maneirismo) é artista de vanguarda, eclético, protagonista deste romance (a par de Vilela). Joana (na auto-biografia de Morel) ou Heloísa Wiedecker (na realidade ficcional) é a perturbante (e memorável) jovem amante de Morel, por ele assassinada. O romance é Morel em sua cela da prisão fazendo flash-backs através da auto-biografia que vai escrevendo, intercalada com conversas com o ex-'policial' e escritor Vilela, que tenta entrar na vida de Morel, percorrendo itinerários da biografia e passado (duas coisas com algum grau de diferença). Em sua biografia vão desfilando as mulheres de Morel (e de Fonseca): Joana (jovem burguesa masoquista com pendor para a arte), Isménia (Aracy, "pintora naive"), Carmen (Lilian Marques, ex-prostituta), Elisa Gonçalves (Marta Cunha, "mulher rica e famosa") - duplas, escondidas em pseudónimo literário, a família de Paul Morel.

(Morel)
"Eu saio na frente. Vou buscar o chicote e te encontro no apartamento."
Exit Joana.
Os 'exits' de joana me davam calafrios.

Sem comentários:

Enviar um comentário

@ ventura bravo [venturabravo@gmail.com]


pesquisar no blogue

links

arquivo

tags

livros (48) cinema (46) autobiografia (38) filmes (31) cinemateca (24) teatro (18) literatura (17) música (12) Rubem Fonseca (8) cinema norte-americano (6) concerto (6) Culturgest (5) Machado de Assis (5) Verão (5) jazz (5) Gulbenkian (4) Público (4) TV (4) Teatro Maria Matos (4) cultura (4) pintura (4) DocLisboa (3) John Huston (3) blogues (3) costumes (3) dança (3) exposições (3) melancolia (3) mulheres (3) musica (3) personalidades (3) política (3) políticas culturais (3) Album (2) Billy Wilder (2) Boris Barnet (2) California (2) Casa da Música (2) Christian Bale (2) Dexter (2) El País (2) Eric Rohmer (2) François Truffaut (2) Gabriela Canavilhas (2) Girls (2) Governo (2) Jean-Pierre Léaud (2) Memorial de Aires (2) Michael C. Hall (2) Pedro Mexia (2) Philip Roth (2) Ramón Lobo (2) Robert Bresson (2) San Francisco (2) Spike Jonze (2) The Humbling (2) Xavier Le Roy (2) escuta (2) impressões (2) jornais (2) le sacre du printemps (2) performance (2) reportagem (2) séries (2) trailers (2) vontade indómita (2) xkcd (2) 1969 (1) 9 (1) Adolfo Bioy Casares (1) Afeganistão (1) António Lobo Antunes (1) António Machado Pires (1) António Pinho Vargas (1) Beat the Deavil (1) Bored to Death (1) Burnt Friedman (1) Californication (1) Como me tornei monja (1) Culturgest Porto (1) César Aira (1) Darren Aronofsky (1) District 9 (1) Edward Norton (1) Eimuntas Nekrosius (1) El Espiritu de la Colmena (1) Electrelane (1) Eric Von Stroheim (1) Evan Parker (1) Festa do Cinema Francês (1) Francisco Colaço Pedro (1) Gonzales (1) Grizzly Bear (1) Guardian Books Blog (1) Henri Fantin-Latour (1) Henri Texier (1) Hugh Hefner (1) Invenção de Morel (1) Jacques Rivette (1) Jaki Liebezeit (1) James Gray (1) Jean Renoir (1) Jeanne Balibar (1) Joan Didion (1) Jonathan Mostow (1) Jonathan Rosenbaum (1) José Miguel Júdice (1) La Grande Illusion (1) Les 400 Coups (1) Louis Sclavis (1) Lubitsch (1) Luc Moullet (1) Ma nuit chez maud (1) Malcolm Lowry (1) Mark Deputter (1) Miami (1) Molly Young (1) Neil Blomkamp (1) Neutral Milk Hotel (1) Olivia Thirlby (1) Peter Evans (1) Philippe Quesne (1) Porto (1) Proust Questionnaire (1) Santo Agostinho (1) Serralves (1) Surrogates (1) Teatro Nacional São João (1) The Fantastic Mr. Fox (1) Timor-Leste (1) Under the volcano (1) Vanity Fair (1) Victor Erice (1) Werner Herzog (1) Wes Anderson (1) Where the wild things are (1) Yellow House (1) amizade (1) arte (1) averdade (1) bairro (1) bd (1) blogue (1) cebolas (1) cinema asiático (1) cinema de animação (1) cinema e literatura (1) confissões (1) culpa (1) câmara clara (1) desigualdade sexual (1) editorial (1) electrónica (1) exploração sexual (1) fake empire (1) fastasmas (1) free-love (1) glamour (1) guerra (1) homens (1) indiepoprock (1) ioga (1) joana (1) jovens (1) l'effet de serge (1) late youth (1) mulher (1) noite (1) nostalgia (1) nudismo (1) nytimes (1) portugueses (1) senhoras (1) sociedade (1) solo piano (1) the national (1) tráfico humano (1)

Seguidores