"Bate com a mão mesmo", Joana pediu.
Apoiado na mão direta, dei um tapa com a esquerda no rosto de Joana. Joana fechou os olhos, o rosto crispado, não emitiu um som sequer. Dei outro tapa, agora com a mão direita, com mais força.
"Bate, bate!"
Bati com violência. Joana deu um gemido lancinante. Continuei batendo, sem parar.
"Me chama de puta..."
"Sua puta!"
"Mais, mais!..."
Chamei Joana de todos os nomes sujos, bati com força no seu rosto. Nossos corpos cobertos de suor. Lambi o rosto de Joana, em fogo das pancadas recebidas. Nossas bocas sorviam o suor que pingava do rosto do outro. De dentro de mim, de um abismo fundo, vinha o orgasmo, uma pressão acumulada explodindo.
Outro Morel literário (fantástico e com motivos de romance policial) é o da também estreia de Adolfo Bioy Casares (1914-1999), A Invenção de Morel (1940). Aqui, Morel é o cientista(/cineasta?)-holograma responsável pela arquitectura teórica do romance (o cinematógrafo que permite a ilusão do narrador-protagonista: os turistas rotineiros que não o vêem). O narrador, fugitivo, só, numa ilha de espectros (sombras cinematográficas), único corpo real numa trama virtual, persegue, em registo diarístico a mulher de Morel, Faustina, incorpórea, sem alma, condenada à eternidade.
O (Paul) Morel de Rubem Fonseca (O Caso de Morel), por sua vez, encarcerado numa (ilha-)cela viaja com seus escritos (de que se arrepende várias vezes) e com objectivos fixos de performance física: bater o record presidiário de mil flexões diárias.
A família - mote activado pelo artigo "A Sagrada Família" (P2 [Público], 2.8.09), de Pedro Mexia - é conceito lacunar e, ao mesmo tempo, nostálgico n'O Caso Morel. Paul Morel, esquelético e febril, com ar de pneumónico, alimenta-se (de), e consume-se em mulheres; tem devaneios e partindo deles quer formar uma família feliz: ele, macho alpha em alcateia de mulheres. Morel apegado a uma ideia oportunista e distópica de família.
(Lilian [Carmen])
Apoiado na mão direta, dei um tapa com a esquerda no rosto de Joana. Joana fechou os olhos, o rosto crispado, não emitiu um som sequer. Dei outro tapa, agora com a mão direita, com mais força.
"Bate, bate!"
Bati com violência. Joana deu um gemido lancinante. Continuei batendo, sem parar.
"Me chama de puta..."
"Sua puta!"
"Mais, mais!..."
Chamei Joana de todos os nomes sujos, bati com força no seu rosto. Nossos corpos cobertos de suor. Lambi o rosto de Joana, em fogo das pancadas recebidas. Nossas bocas sorviam o suor que pingava do rosto do outro. De dentro de mim, de um abismo fundo, vinha o orgasmo, uma pressão acumulada explodindo.
(O Caso Morel, 1973, de Rubem Fonseca)
Outro Morel literário (fantástico e com motivos de romance policial) é o da também estreia de Adolfo Bioy Casares (1914-1999), A Invenção de Morel (1940). Aqui, Morel é o cientista(/cineasta?)-holograma responsável pela arquitectura teórica do romance (o cinematógrafo que permite a ilusão do narrador-protagonista: os turistas rotineiros que não o vêem). O narrador, fugitivo, só, numa ilha de espectros (sombras cinematográficas), único corpo real numa trama virtual, persegue, em registo diarístico a mulher de Morel, Faustina, incorpórea, sem alma, condenada à eternidade.
O (Paul) Morel de Rubem Fonseca (O Caso de Morel), por sua vez, encarcerado numa (ilha-)cela viaja com seus escritos (de que se arrepende várias vezes) e com objectivos fixos de performance física: bater o record presidiário de mil flexões diárias.
A família - mote activado pelo artigo "A Sagrada Família" (P2 [Público], 2.8.09), de Pedro Mexia - é conceito lacunar e, ao mesmo tempo, nostálgico n'O Caso Morel. Paul Morel, esquelético e febril, com ar de pneumónico, alimenta-se (de), e consume-se em mulheres; tem devaneios e partindo deles quer formar uma família feliz: ele, macho alpha em alcateia de mulheres. Morel apegado a uma ideia oportunista e distópica de família.
(Lilian [Carmen])
(...) ser puta é muito chato, é muito melhor ser mulher de família... Tenho dito. (Lilian passa o microfone para Aracy.)(Joana)
Porque de dia ele mata os porcos, os cabritos, ouve os bramidos e se cobre de sangue e à noite vai para a cama com a filha, a mulher que ele ama e que o ama, e assim, fazendo o que gosta, o inocente e bom homem só pode ter uma mente saudável.
(O Caso Morel)
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