Em District 9 (2009, filme de Neil Blomkamp) há um diálogo com a história recente da cidade que o acolhe, Joanesburgo. Com a chegada dos extra-terrestres, o fantasma do Apertheid é reactivado e torna-se regra. Muros são erguidos (ghetto) para isolar os «não-humanos», são desprezados e odiados pela população nativa de Joanesburgo. Filme de ficção científica onde os temas e citações sucedem-se: a metamorfose (por contaminação – Spider-Man ou a Mosca) do protagonista, Wikus (lembramos os sofrimentos de Gregory Samsa, só, na sua tragédia familiar); alienígenas como metáfora dos imensos refugiados de guerra em África (Darfur?), fechados em campos, sem sítio para onde ir (a nave suspensa sobre a cidade não funciona); e o tema das poderosas corporações de questionáveis e desumanas intenções, a MNU (que emprega mercenários, como os que trabalharam no Iraque...).
Apesar de todas essas premissas o filme não chega a adensar-se como gostaríamos. As entrevistas são algo penosas e dificilmente acrescentam algo à acção; a metamorfose de Wilkus não é explorada até ao fim (fica suspensa), talvez não tenha havido coragem para ir mais longe, de por exemplo mostrar o processo todo de mutação e integração na cultura e comunidade alienígena. Ficam as interessantes hipóteses levantadas, as gráficas cenas de guerra (saidas dos videojogos), e principalmente as contaminações: metamorfose, Apertheid, grafismo dos videojogos (dos FPS [first person shooting], patente no tratamento da imagem e ritmo da contextualização inicial: a chegada dos extra-terrestres 20 anos antes; e nas intensas batalhas de toda a parte final do filme), refugiados de guerra... De facto, em alguns momentos, temos a ideia de que estamos perante a virtualidade do videojogo (pela sua "atracção"/ espectacularidade e narrativa poder-se-ia dizer, aberta, bem como os aspectos anteriormente referidos) e não um filme de ficção. Para onde caminhamos, uma fusão de meios, como a fusão do humano metamorfoseado com o robô (transformer?) de guerra?
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